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Opinião
11/11/2006 - 07h03
Sobre o estudar
Dartagnan da Silva Zanela
 

A educação já foi tema da pauta de vários de nossos libelos. Neste, mais uma vez, procuramos abordar este assunto que, ao nosso ver, merece, ab imo corde (do íntimo de nosso coração), toda atenção possível, devido a relevância deste ato existencial na vida de todo e qualquer indivíduo.

Para este intento trago a baila alguns pontos que me foram suscitados pela leitura do texto (introdutório ao curso "Unas lecciones de metafísica") "Sobre el estudiar y el estudiante" de José Ortega y Gasset (1883 - 1955). Este grande nome da filosofia hispânica discute com elegância o que seria o estudo e, principalmente, a relação deste com a identidade do estudante.

Y Gasset nos lembra que a condição de estudante seria, de modo geral, uma falsa condição, visto que o estudo seria uma sincera curiosidade em conhecer algo, um franco desejo de querer solver algo através de todo o seu intelecto. Esse desejo deve emanar do mais íntimo de nosso ser, refletindo, deste modo, o que mais desejamos ser através do objeto que desejamos conhecer.

Essa condição todos nós, seres humanos, manifestamos com relação a algum assunto. Alguns mais requintados e elevados. Outros, por sua deixa, entregam a sua sincera bisbilhotice a pautas vulgares e chulas, porém, em todos os casos, manifestando o que realmente somos.

Quando nos colocamos na condição de estudante, somos levados a ter de aceitar o cultivo de temas que muitas vezes não refletem o que realmente cultivamos no âmago de nossa alma, justamente porque o estímulo que se vê presente nas Instituições de um modo geral - e nas de ensino de um modo particular - seria meramente e tão só exterior, o que acaba por cultivar uma falsa condição, que é a do aprendiz.

Por essa razão, a educação acaba se tornando um processo mecânico e artificial, fingido, justamente pelo seu pacto primeiro que é o da imposição de determinadas disciplinas que, ainda hoje, boa parte dos mancebos não compreende de modo claro e, vislumbramos neste ponto a razão que leva o educando a ter de assistir um professor lhe ministrar lições sobre este ou aquele assunto que não lhe interessa por não visualizar nele nenhuma relevância.

Ainda segundo Ortega y Gasset, não se é possível cultivar o conhecimento científico sem que se enseje a ânsia por ele. Quem o diga em um sistema de ensino onde agimos como autômatos. Gostemos ou não, mesmo com todos as discussões que são travadas no campo teórico sobre este problema, ainda continuamos a agir em boa parte do tempo escolar deste modo, reforçando essa falsa condição de estudantes e, de certo modo, falseando a nossa condição de professor que pouco ou nada professa de interessante.

Ora, mas o que fazer então? Segundo Ortega y Gasset, em seu texto redigido em 1933, dever-se-ia repensar o ato de ensinar para assim, conseqüentemente, refazer o desejo de aprender. Deveríamos ensinar aos nossos alunos, antes de qualquer coisa, a necessidade do saber científico e das ciências de modo particular e não apenas a possibilidade de sua necessidade em nossas vidas. Deveríamos demonstrar o seu valor em si.

Antes deste filósofo espanhol, Sto. Tomás de Aquino (1221 - 1274), em sua obra "Comentários a Aristóteles" nos ensina com grande eloqüência que: "a alma, em sua parte intelectiva, às vezes está em potência, e às vezes está em ato. É necessário, portanto, que seja um o intelecto no qual todos os inteligíveis possam ser feitos. Este é o intelecto possível. E outro é o intelecto que pode tornar todos os inteligíveis em ato". Para desenvolver de maneira ampla o intelecto, segundo o Aquinate, dever-se-ia existir um outro elemento, que seria a causa agente e fática, que estaria em relação a parte intelectiva assim como a arte estaria em relação à matéria. Essa arte, no caso, seria tão simplesmente a arte de ensinar.

Sem mais delongas, lembramos que se continuarmos a nos esquivar desta questão que está posta desde longa data a nós educadores estaremos continuando a reforçar esse estado de fingimento que, dia após dia, vem se tornando a educação e, fazer da vida um simulacro fingido é pérfida loucura. Tal atitude, não traz nenhum bem para a sociedade e muito menos faz bem alma humana.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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