A vida política deveria, ao menos em teoria, ser uma atividade indissociável da moral e da ética. Todavia, a única moral reinante que se vê nesta seara é a dos larápios e a única ética presente que, aparentemente, se permite imperar, é a dos oportunistas. Entretanto, por mais que possa indignar o cenário que se desenha em nossa sociedade hodierna, não temos como apontar unicamente para os nossos representantes como sendo os únicos responsáveis. Muito menos como os principais autores desta meleca toda, visto que, já nos deram provas cabais de que eles não têm honradez o bastante para admitir culpa de coisa alguma. Os grandes responsáveis por esse angu todo, também, não poderia ser de modo algum o tal do "povo", pois, em meio a todos os discursos demagógicos que se pronunciam em nossa sociedade todos tomam ele, o "povo", como sendo o principal beneficiado pelo ato de governar dos possíveis governantes, do mesmo modo que ele de novo, o tal "povo", se faz presente na fala das pessoas de classe média de modo positivo e depreciativo. Positivo, naquela fala farisaica de solicitação de um governo que atenda de modo mais atento as parcelas da população que se vêem desvalidas e, de modo negativo, quando se vê apenas programas assistencialistas que viciam o temperamento dos beneficiados a dependerem sempre daqueles que lhes estendem a mão com segundas, terceiras e infinitas intenções (leia-se voto...) e tudo isso, pago com recursos obtidos via impostos. Tudo bem que a nossa escolha tenha sido equivocada. Não tem problema nenhum nisso, pois errar é humano. Entretanto, o que não pode ser um equívoco de modo algum é nossa cobrança, nossa fiscalização dos trabalhos que estarão sendo desenvolvidos pelos nossos representantes eleitos. De nada adianta votar-se no candidato A ou no B, negando-se a anular o voto se nos anulamos no correr dos quatro anos de Gestão e de Legislatura. O significado do voto, não está tão só na escolha que se faz no dia do sufrágio, mas sim, na forma como nos identificamos e nos relacionamos com ele (o resultado do voto) após a escolha dentro das regras estabelecidas. Por isso mesmo, nunca engoli e não engulo esse trololó de que voto nulo é voto néscio. Néscio e covarde, ao meu ver, são justamente aqueles que sufragam o seu votinho na esperança vã de que unicamente aquele gesto seja capaz de garantir um forte movimento de mudança e por se esquivarem de suas obrigações (não direitos) de cidadão, de realmente vivenciar com intensidade os dilemas de sua polis. Todavia, muitos afirmam medo, receio diante da uma possível ação diante dos "coronéis" pós-modernos. Esta fala é deveras plausível, visto o caráter autoritário de nossa cultura política como muito bem nos demonstra Simon Schwartzman e tutti quanti. Todavia, temos atualmente devido as novas tecnologias novas formas possíveis de atuação. Por exemplo: a coleta de assinaturas para a proposição de um Projeto de Lei de iniciativa popular tornou-se muito mais rápida através do uso (e abuso) da Internet. Outra forma de ação bastante interessante é a dita "passeata virtual" onde cidadãos, como eu e você, literalmente bombardeiam as caixas de e-mail dos parlamentares reivindicando a não aprovação (ou aprovação) de um determinado Projeto de Lei. Enfim, estes são apenas dois pequenos exemplos de atuação possível para que possamos ser, realmente, sujeitos ativos em nossa sociedade. Há outras maneiras tradicionais como: freqüentar as sessões da Câmara para comprovar que realmente o infeliz está atuando de maneira coerente, ou reunir-se com outros membros da comunidade para discutir os problemas locais, estaduais e nacionais. Sem estas atitudes simples, nós continuaremos a ser cidadãos de meia-pataca, de papel, similares a um homem que casa com uma bela dama, que lhe dá casa e paga todas as suas despesas, porém, nunca a visita nem para lhe perguntar o nome. O resultado disso, todo mundo sabe, mesmo que ninguém queira reconhecer a culpa. Essa apatia faz nossa sociedade exalar estes odores pestilentos por todos os canais de comunicação dia após dia, por fazermos dela uma civitas putrefaz, similar a nossa vontade degradada de nada sermos além caricatura ranheta daquilo que nunca seremos.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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