De um modo geral, e por saber que a delicadeza é uma qualidade, tento não reagir a pessoas que, por mera intriga, veemência, pseudo-inveja ou excesso de intimidade, passam dos limites. Tento. Não sou uma pessoa delicada, sou direto, instantâneo no responder e pago um preço por esse comportamento incompreendido. Descobre-se ao correr da vida, que algumas pessoas bravateiam, fazem cenas e borbulhas que, na essência, pouco significa. Não compactuo com essas pessoas. Elas são "industrialmente" delicadas e são o oposto do que tentam aparentar. Outras são vazias, fátuas, melífluas. Algumas, são ácidas no tratar. A acidez no tratar não é boa. Tanto para quem é ácida, como para quem ouve o impropério. É comum que algumas pessoas tenham por costume usar de estratégias, até inconscientes, para fazer jogo de cena, tentar defender o que não lhes anima e apenas procuram saber as razões do outro; o que não é da sua conta. De minha parte, na medida da minha consciência, tento reparar as indelicadezas que cometo. Apresto-me a dizer do meu erro ou equívoco. Mas, não é sempre assim tão fácil. Sofro. Esta história me faz lembrar o aforismo "homo homini lupus", de que falava há séculos o pensador inglês Hobbes. É um fato incontestável e com o qual nos deparamos no dia-a-dia, ser o homem o lobo do próprio homem, ou o que procura destruir ou vilipendiar a imagem ou o propósito de alguém. A essência ou origem de tudo isso é a inveja, tão antiga quanto complexa. Começou, segundo a Bíblia, com Caim e Abel. Não é preciso ser dicionarista para saber que a inveja é o ’olho grande’ no bem ou na felicidade, real ou imaginada pelo invejoso, de alguém. É também a vontade de possuir o que o outro tem - ou o que invejoso pensa que o outro tem. Ou alegrar-se com o que o outro não possui. A delicadeza, por outro lado, é uma espécie de contraponto transversal da inveja. É estar com o outro, é integrar-se a alguém. Não se trata de mero gestual, treinamento de boas maneiras, fricotes, mas é a capacidade de agregar valor com a simples presença, atitudes discretas, porém conseqüentes e determinantes ao bem estar do outro. Passaram-se as eleições, o dia das bruxas, finados e estamos no emergir da natividade, daí ser tempo de repensar modos, revisar comportamentos e polir a auto-estima, sem medo de reconhecer no outro aquilo que nos falta ou apenas imaginamos faltar. Somos seres imperfeitos à procura da delicadeza. Eu, especialmente, crítico de mim mesmo e dos outros. A delicadeza é um processo de reeducação que passa pela convivência com quem nos aceita, entende e anima, bem como os outros que não nos vêem como imaginamos que somos e tampouco como eles acreditam que tentamos ser.
|