Certa manhã, um aluno seguia pela calçada da Petrobras em direção a escola. De repente, por causa da trepidação de um caminhão de barrilha, um pedaço do muro que estava caindo se soltou e acertou a cabeça do moleque. O menino caído no chão chamou a atenção das outras crianças que ali formaram um tumulto, pedindo ajuda. A Petrobras veio se pronunciar, trouxe relatórios e mapas para explicar que há 5 meses alguns engenheiros estavam estudando a possibilidade do muro cair e, segundo relatório técnico, o menino é que estava errado de estar ali na hora que a pedra caiu. O Sindicato apareceu e ficou sabendo que, segundo relatório da Petrobras, foi melhor a pedra cair do lado de fora, não atingindo assim a área do monopólio. Quando ia questionar, descobriu que o menino não era filho de petroleiro e, portanto não era problema do Sindicato. A Sabesp esteve no local, verificou se a linha de abastecimento de água havia sido atingida, o que não aconteceu, portanto não era caso com a Sabesp. A Eletropaulo verificou que as instalações elétricas não foram danificadas e saiu. A Secretaria do Meio Ambiente chegou ao local para averiguar e pode constatar que a Sebipiruna da avenida não tinha sido atingida e que a raiz do coquinho catarro de dentro da área estavam intacta. O moleque?... Bem... Moleques são verdadeiros predadores. De repente um representante da Secretaria da Educação chegou ao local e pode constatar que o menino não estava de uniforme, não ficando assim configurado se estaria indo à escola ou não. Portanto não sabia se poderia interferir... Eis que surge um vereador, pega o moleque nos braços, leva para seu carro 0 km e parte em direção ao hospital. O menino é atendido gratuitamente (é claro) e levado para sua casa onde sua mãe o recebe juntamente com umas balinhas e santinhos. Na avenida, a polícia aparece, dá um geral e acaba com o tumulto. Quando amanhece o dia, está sendo pintada uma faixa amarela no meio da calçada (por uma empreiteira) e um funcionário da Petrobras está com uma caixa distribuindo 50.000 adesivos e viseiras para as crianças da escola, explicando que começou uma experiência pioneira de ESTUDO SOBRE A VIDA ÚTIL DE UM MURO. Nota: Este texto foi escrito em 1996.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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