Ouve-se falar e muito de infecção hospitalar, mas a discussão sobre o lixo produzido nos hospitais e clínicas fica mais restrita ao próprio setor. Não deveria ser assim, basta lembrar o acidente com o material radioativo Césio 137, ocorrido em setembro de 1987, em Goiânia. A curiosidade de dois sucateiros, que desmontaram um aparelho de radioterapia abandonado deu origem ao maior acidente radiológico do mundo. Quatro pessoas morreram, sendo uma delas Leide das Neves Ferreira, aos seis anos. Desde então mais de 49 pessoas já morreram em conseqüência do acidente e centenas de pessoas passaram a ser monitoradas regularmente pelas autoridades. Como salienta o especialista em gestão e auditoria ambiental, Artur Ferreira de Toledo (professorartur@uol.com.br), entrevistado pelo WMulher, a atividade hospitalar é uma admirável geradora de resíduos porque dentro destes estabelecimentos são realizadas diversas atividades ao mesmo tempo. Como são produzidas toneladas de resíduos diariamente, o volume de lixo é imenso. Os hospitais limitam-se a encaminhar a totalidade dos resíduos para sistemas de coleta especial e, em muitos casos, não tomam nenhuma providência em relação ao lixo que é produzido. O temido lixo hospitalar não é só composto de curativos, gazes, ataduras, seringas, luvas descartáveis e aventais. Produzidos em laboratórios, clínicas, hospitais, farmácias e postos de saúde, este tipo de resíduo é considerado um lixo altamente tóxico e perigoso, já que contêm ou potencialmente pode conter germes patogênicos, além de diversos tipos de material radioativo podendo provocar acidentes como o ocorrido em Goiânia. A transmissão de doenças e a contaminação são os principais motivos pelos quais os administradores hospitalares devem se preocupar ao lidar com este tipo de lixo, que pode colocar em risco os pacientes do estabelecimento hospitalar - por meio de infecções graves e fatais e àqueles que manuseiam e manipulam os resíduos e os equipamentos. Em alguns países do primeiro mundo é realizado um trabalho conjunto entre os fornecedores dos hospitais, desenvolvendo produtos que diminuem o material descartado, assim como práticas de gestão hospitalar visando a redução da quantidade de lixo. "A coleta seletiva é importante na questão de riscos à saúde pública e também na questão ambiental. O gerador que não segrega, acondiciona e não destina adequadamente este tipo de resíduos pode colocar em risco os profissionais da saúde, os pacientes e outras pessoas que possam ter contato", alerta Toledo e informa que muitos municípios do Brasil não só encaminham o lixo domiciliar, mas também o hospitalar aos lixões e aterros sanitários. Depois de despejados, "os resíduos permanecem em céu aberto e sem nenhuma medida de proteção ao meio ambiente e à saúde pública", lamenta o especialista. O aterro clandestino é outro destino do lixo hospitalar. Segundo Toledo, o local é "alvo de pessoas que buscam seu sustento, não só procurando materiais recicláveis para comercialização, como também encontrando seu alimento e abrigo", o que deixa explícito o perigo de contaminação que as pessoas podem vir a contrair por meio de resíduos hospitalares que não são separados do lixo comum. O risco de um acidente semelhante ao de Goiânia permanece, mesmo tendo se passado quase 20 anos. Os diferentes tipos de resíduos hospitalares Para selecionar, coletar e transportar os resíduos produzidos nos hospitais, de acordo com normas técnicas pré-estabelecidas e com as leis vigentes, o lixo hospitalar pode ser dividido em três grupos: - Resíduos Infecciosos: material proveniente de sangue humano e derivados, perfurantes e cortantes, resíduos de diagnóstico e de tratamento - gaze, drenos, sondas. Peças anatômicas de amputações e biópsias. - Resíduos Especiais: material radioativo, farmacêutico e químico. - Resíduos Gerais e Comuns: material proveniente das áreas administrativas: resíduos alimentares, embalagens reaproveitáveis, restos do jardim. Atenção! Nem todo lixo produzido nos hospitais é considerado hospitalar: O terceiro grupo, ou seja, os resíduos gerais e comuns não podem ser classificados como lixo hospitalar. Apesar de produzido em clínicas, farmácias e hospitais, o lixo que provém do setor administrativo é semelhante ao da classe dos lixos urbanos. Lixo nuclear: Raio X: Composto por produtos altamente radioativos, alguns materiais hospitalares - aventais, papéis de radiografia - que tiveram contato e exposição prolongada à radioatividade são considerados lixo nuclear. Eles precisam ser isolados, já que têm capacidade de emitir radioatividade por um longo período de tempo e podem provocar novos e gravíssimos acidentes radioativos ou radiológicos. Lixo hospitalar - As soluções: Segundo a norma brasileira NBR 10004/2004, o resíduo hospitalar é considerado resíduo perigoso (Classe I), devendo ser destinado adequadamente. Existem rígidos critério de segregação, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento e destinação ao lixo hospitalar. A coleta especial e a incineração são as duas soluções apontadas para a destinação do lixo hospitalar não radioativo. A incineração, ou seja, a queima do lixo através de altas temperaturas - que variam entre 800 e 3000º C - é uma das formas de eliminar os resíduos hospitalares. Apesar de alguns especialistas acreditarem que tais emissões atmosféricas podem lançar no ar produtos nocivos à saúde, Toledo afirma: "Em relação à redução do volume, a incineração é a melhor solução". A questão financeira também é delicada porque os incineradores são caros e o custo da manutenção é alto. Se possuírem tecnologia adequada e estiverem em locais que não tragam incômodos à população, os incineradores são uma boa forma de destruir este tipo de lixo. Outra proposta viável é o reprocessamento de resíduos do lixo hospitalar, cuja matéria prima pode ser reutilizada em outros fins. "As técnicas de reprocessamento, reciclagem e comercialização de certos materiais contribuem para a redução de impactos no meio ambiente e na saúde pública", explica o especialista, "porém sua operacionalização depende do processo e das condições em que ele é praticado". É essencial a conscientização das autoridades e da população, especialmente os catadores de lixo sobre o risco deste tipo de lixo. Colaboração: Bruna Rodrigues.
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