À primeira vista, é estranho. Às vezes, é engraçado. Outras, de dar susto. E sempre, de matar de vergonha quem, no meio de uma conversa, na fila do banco, ou na escola, acaba se tornando o centro das atenções por não controlar um comportamento estranho, repleto de ’tremiliques’, grunhidos, estalidos com a língua, arremedos ou movimentos bruscos, chamados distúrbios de movimento ou, como são popularmente conhecidos, tiques nervosos. Segundo a médica e psicanalista, Soraya Hissa de Carvalho, pouca gente sabe, mas, mais do que meras manias extravagantes, os tiques são a expressão mais perceptível de uma doença neurológica ainda incurável e pouco conhecida, chamada Síndrome de Gilles de la Tourette, ou Síndrome dos Tiques. "É um distúrbio de origem genética que não compromete a capacidade de raciocínio do portador, tampouco as habilidades físicas dele, mas que é fatal para a auto-estima", afirma Soraya. Para a psicanalista, a maioria das pessoas não tem idéia de portar a patologia. "Primeiro, porque não sabe que os distúrbios são sintomas de uma doença específica. Depois, porque, como a síndrome tem expressão muito variável, boa parte dos portadores não apresenta as formas mais severas de tique e, logo, não busca tratamento", explica a médica. Segundo ela, os portadores podem apresentar tiques motores - como movimentos bruscos de encolher os ombros, fazer caretas ou repuxar a cabeça -, tiques vocais - fungar, repetir palavras, grunhir ou fazer estalidos com a língua, ou não apresentar mais do que uma ligeira tendência depressiva e nenhum tique ou, pior, apresentar todos os distúrbios juntos. "Não tem fórmula. É muito variada a manifestação da doença. E nem toda mania é sintoma da síndrome. Geralmente, os distúrbios aparecem na idade escolar. Se, em um ano, não desaparecerem, devem ser analisados por um neurologista. Se sumirem são os tiques normais, que tanta gente tem quando criança e que não são motivo de preocupação", alerta Soraya. Segundo a médica, geralmente, o portador de Tourette tem controle sobre os distúrbios por minutos, horas até, mas, nos casos mais severos, depois de escondê-los, sofrem acessos de tiques, com seqüências de reações involuntárias que foram adiadas durante o período. As crianças, especialmente, costumam sofrer muito por causa dos distúrbios. "Mas o tratamento existe, com psicoterapia e farmacologia, podendo melhorar demais a vida paciente", afirma a psicanalista.
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