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Opinião
22/11/2006 - 15h05
O triunfo da esperteza
João Luiz Mauad - MSM
 

O acidente com o vôo 1907 da Gol Linhas Aéreas e o festival de mentiras, presepadas, arrogância e irresponsabilidade das autoridades envolvidas no episódio são a prova cabal da falta de escrúpulos dos homens que hoje se encontram encastelados no poder "deste país".

A queda do avião, que matou 154 passageiros e tripulantes, ocorreu poucos dias antes do primeiro turno das eleições. A partir de então, foi posta em prática uma das mais abjetas campanhas de desinformação já vistas por essas bandas. O intuito era, única e exclusivamente, encobrir eventuais responsabilidades dos controladores de vôo no e, conseqüentemente, dos órgãos e agências estatais a que eles estão subordinados. Em síntese, nada que pudesse vincular a inépcia do governo à tragédia e prejudicar suas pretensões eleitorais poderia vazar para o público antes de decidido o pleito.

Desde o primeiro momento, todas as autoridades ouvidas pelos meios de comunicação foram unânimes em afirmar, não raro de forma peremptória, que o sistema de controle do tráfego aéreo brasileiro estava entre os mais modernos e avançados do mundo. A mensagem aos incautos era sempre a de que o espaço aéreo nacional é 100% seguro, os CINDACTAS funcionam perfeitamente, sem "sombras" ou "ruídos" - como se diz em linguagem aeronáutica - e os profissionais envolvidos são do mais alto gabarito.

Tendo a seu lado trunfos poderosos, como o indefectível nacionalismo tupiniquim e, principalmente, o indelével anti-americanismo que mora nos corações e mentes do povo de Pindorama, nossas autoridades, com o beneplácito e, muito freqüentemente, com a ajuda da mídia em geral, induziram - no início dissimuladamente, depois ostensivamente - a plebe ignara "deste país" a pensar que o grave acidente fora obra exclusiva dos pilotos do jato Legacy (os cruéis alienígenas da terra do malvado Bush).

A estratégia, pode-se agora dizer, foi um estrondoso sucesso. A justiça rapidamente "seqüestrou" os passaportes dos dois cidadãos norte-americanos. A polícia aventou a hipótese de tipificar o "crime" dos dois "depravados" como homicídio doloso pois, na cabeça dos nobres doutores, eles teriam desligado seus próprios equipamentos de segurança já sabendo que, mais adiante, bateriam de frente com um 737 - muito maior do que eles, diga-se de passagem - e sairiam ilesos, matando, premeditadamente, 154 brasileiros.

Enquanto isso, choviam cartas de leitores para as editorias dos grandes jornais. Todas, sem exceção, profundamente indignadas com a negligência, imprudência e imperícia dos pilotos sobreviventes. Experts em aviação civil e militar logo sugeriram que os dois "insanos" poderiam ter desligado os equipamentos de segurança e identificação do pequeno avião para, "quem sabe" fazer "testes" sem serem percebidos pelo radar, quando na verdade o Legacy voava no piloto automático desde São José dos Campos.

A patriotada brasileira chegou ao ponto de entupir a caixa postal de um jornal americano com mensagens indignadas porque o mesmo publicara artigo - do repórter que viajava a bordo do Legacy no momento da trombada - insinuando que o espaço aéreo tupiniquim não era assim tão seguro como diziam as nossas autoridades. Ora, vejam só: de onde aquele celerado poderia tirar semelhante bobagem?

E assim, conseguiram vencer um mês inteiro, até o segundo turno, sem que ninguém sequer sugerisse qualquer hipótese diferente daquela que nos empurravam goela abaixo. Palmas para eles! A esperteza mais uma vez triunfara na terra de Macunaíma.

Vencidas as eleições, já não havia mais razão para segurar uma verdade que, mais cedo ou mais tarde, viria à tona. Começaram então a surgir evidências de que as coisas não se passaram exatamente do jeito que gostariam as nossas autoridades, a mídia e a população em geral.

Hoje, já sabemos que o acidente foi proveniente de inúmeras falhas, humanas e técnicas - algumas tão prosaicas quanto inimagináveis no universo da aviação civil, como a falta de clareza nas comunicações (diálogos) entre a torre e os pilotos -, cujo encadeamento acabou resultando na tragédia. No entanto, se há um responsável principal nesse imbróglio, pela mais absoluta incúria no trato de assuntos em que não se pode, jamais, negligenciar, pois envolve a segurança de vidas humanas, esse alguém é o governo brasileiro.

Independentemente de outras circunstâncias atenuantes, como o mau funcionamento do equipamento "transponder" e do sistema de comunicação entre a torre de Brasília e o Legacy, os controladores de vôo (não apenas os de São José dos Campos, que deram uma instrução errada aos pilotos americanos, para que voassem a 37.000 pés até Manaus, mas também os de Brasília, que nada fizeram para desviar dois aviões em possível rota de colisão), na qualidade de agentes encarregados de dar PROTEÇÃO às aeronaves, têm grande quota de responsabilidade pelo acidente, pois falharam naquela que é a sua principal função: dar proteção às aeronaves. (Não por acaso, um dos sindicatos que abriga profissionais dessa área chama-se: Sindicato nacional dos trabalhadores em PROTEÇÃO AO VÔO).

O mais espantoso neste caso, contudo, foi a facilidade com que algumas autoridades conseguiram iludir toda a imprensa "deste país". Poucos foram os jornalistas que, por um instante que fosse, duvidaram das versões estapafúrdias que lhes eram apresentadas. Ninguém ousou, nem de longe, questionar os "especialistas" do governo. Uma simples investigação, por mais superficial que fosse, certamente desvendaria uma miríade de problemas que não precisavam esperar pelo fim das eleições para vir à tona, como a existência de poucos e mal treinados profissionais; salários incompatíveis com a responsabilidade da função; cargas horárias muito acima do ideal; equipamentos obsoletos e manutenção precária; falta de investimentos e comando inadequado, para ficarmos apenas nos ululantes.

Muitos irão acusar-me de radical (para variar), mas se há uma lição a tirar desse trágico acidente e da crise dele decorrente é que precisamos, urgentemente, repensar alguns paradigmas e não apenas remediar os velhos problemas com paliativos. De minha parte, penso que uma atividade tão importante e estratégica, de cujo bom funcionamento dependem, diariamente, milhares de vidas humanas, não pode ficar nas mãos de governos, quase sempre incompetentes, improdutivos e irresponsáveis. Privatização já!


Nota do Editor: João Luiz Mauad é empresário e formado em administração de empresas pela FGV/RJ.

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