O Norberto, ou o "Nóia", como fora cognominado por seus amigos, tinha como hobby a pescaria. Sempre aos finais de semana, tirava algumas horas para se dar tal regalia. Era para "relaxar", como sempre ressaltava. Naquele final de semana, mais precisamente de sexta-feira para sábado, ele iria pescar no açude dos Mouras, lá no Cerro dos Abreus, 70 quilômetros de distância da sua casa. Isso fora o que dissera para a esposa, mas a bem da verdade, ele fora passar a noite em um motel, com a sua primeira amante. Norberto pegou todos os apetrechos que uma boa pescaria exige, o seu velho casaco, a cachacinha para aquecer-se ao gélido ar da madruga, despediu-se da esposa e partiu. A esposa habituada com as pescarias do Nóia, nem se importara com mais essa, afinal, ela era apreciadora e conhecedora da arte de cozinhar um pescado. Na saída, ainda gritara: - Traz uns peixes bem grandes, pois os faremos no almoço de sábado... O Norberto saíra de casa na sexta-feira, por volta das 18h00min, e prometera voltar no sábado, perto da 09h00min da manhã. Partira de casa e fora direto para a residência da amante, pegou-a, e rumou para o motel. O sono "anestésico" que sentimos após o ato sexual atingira também o Nóia, que acordara às 09h00min da manhã, com a faxineira batendo à porta. Despertara a amante, vestira-se o mais rápido possível, pagara o motel, largara-a em casa, sob o apreciar dos vizinhos, olhara o relógio, marcava 10h30min, parecia "andar" mais rápido que o normal, estava nervoso, suava frio, partira para a peixaria, furara a fila, pegara o primeiro peixe que encontrara, resfolegara pela última vez, e enfim, às 11h15min, abrira a porta de casa. - Bonito, seu Norberto! Isso são horas? - Pois é, Nega (Assim ele chamava a esposa). - Aonde tu andavas? - Fiquei pescando até mais tarde, começou a dar Mussum por volta das 08h00min, aí resolvi ficar... E... E... Já aproveitei para limpar os peixes, isso! Um ar álgido parecia ter transcorrido todo o corpo de Norberto, arrepiou-se, perguntou-se sufocadamente, com a garganta seca: - Será que eu comprei Mussum? E se ela perguntar? Refletiu... Não se lembrara, mas diria que os que pescara eram pequenos, e soltara. A esposa do Nóia desconfiara, Norberto estava com uma cara de quem dormira maravilhosamente bem, mas não comentara, apenas o indagara: - Alcança-me a sacola com os peixes? Obrigado! Conseguiu pescar no tal açude dos Mouras? - Consegui! Tu tinhas que ver como é grande... - É... Retorquiu a esposa, soerguendo as sobrancelhas, olhando dentro da sacola de peixes. - O que foi? Replicou o Norberto. E ela redargüiu: - Esse açude é dos bons mesmo... Dá até Tainha! Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista, escreve semanalmente para o site www.sulmix.com.br, e para diversos jornais.
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