Nós, brasileiros, com esse jeito que Deus nos deu, temos a certeza de que produzimos os melhores jogadores de futebol do mundo. Igualmente, temos a falsa idéia de que a nossa seleção de futebol é a melhor. Uma coisa não implica na outra. Um clube de futebol precisa um histórico de administrações eficazes, formar jogadores, ter estruturas dinâmicas e flexíveis à realidade que, a cada ano, vai sendo modificada. Ou nos ajustamos às mudanças ou o nosso trabalho, qualquer que seja ele, passará a ser ignorado e só dele falarão, quando falarem, das nossas desditas. Estaremos de mudança para o passado. Venho pensando que é preciso mudar a estrutura do futebol brasileiro, da cúpula aos clubes da terceira divisão. Caso isso não aconteça, as coisas vão ficar como estão: clubes falidos, dirigentes brigando com torcidas, a televisão ditando horários, determinando cachês diferenciados, alguns técnicos e jogadores mercenários sem identidade. Os grandes clubes europeus são estruturas de geração de renda de todas as naturezas, têm títulos na bolsa de valores e seus patrimônios valem bilhões. Precisaríamos apenas olhar o que está acontecendo lá. Não necessitaria ir muito longe, bastaria ver o que se faz em Portugal. Seria demais pedir dessem um pulo na Espanha e na Inglaterra. O Flamengo e o Corinthians, maiores e mais populares clubes, por exemplo, são um poço de problemas e as receitas do televisionamento, campeonatos e torneios de que participam, não dão para cobrir sequer as dívidas com a previdência, salários atrasados e as questões trabalhistas oriundas de contratos capengas, juridicamente. Em janeiro, teremos novas administrações estaduais no Brasil e o governo federal acena com mudanças de rumo. O futebol pode ser um diferencial competitivo para o Brasil, não só pela imagem que gera, mas pelas divisas e receitas efetivas que não deveriam ser apenas as que constam nos borderôs declarados de cada jogo de futebol. Além das receitas com jogos no exterior, passes de jogadores, o brasileiro, ao menor aceno de esperança, vai aos estádios, paga ingressos, consome transporte, gasta com alimentos e bebidas. Há até um Ministério dos Esportes. Seria bom que todos pensassem mais sobre o que o Brasil está perdendo com o despreparo gerencial e mercadológico do futebol brasileiro. Nenhum país torna-se desenvolvido por acidente, mesmo que tenha reservas minerais riquíssimas. O principal elemento que transforma pessoas, instituições e países é o conhecimento. Não o de algibeira, midiático, focado no imediatismo e na mesmice, mas o que transcende e aniquila as obviedades e ousa, porque tem essência e substrato.
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