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SEÇÃO
Crônicas
25/11/2006 - 16h11
A última piada
Mariella Augusta
 

São quase treze horas. Caminho como uma folha dança estúpida no ar - nas mãos do vento, nas mãos do acaso. Os meus pés incertos e fracos conduzem-me a uma sala escura. Sento-me deixando à minha direita o primeiro lugar vago. Faço-o por hábito, por fé, por amor. Entendo que espero por uma pessoa para ocupá-lo, para que eu sinta a sua respiração ofegante ou calma, devendo proibir-me de voltar os olhos a ela. Então, por um frágil segundo pensarei que ele está ao meu lado.

Acima das cabeças anônimas e das vozes trançadas, a fita começa.

A vida - como ele dizia - está toda aí nesse espaço, nessa grande trama de fibras, nessa exploração do marrom, nesses olhos e nessas bocas. Estava errado. Ainda não vivera o suficiente, estivera sempre lá, dentro.

Queria saber o que diria sobre a cena da montanha. Lembro-me daquela ligação tardia, no mês de abril: "- Meu amigo, você precisa ver a última piada do Bergman!" Não nos víamos desde a semana Antonioni.

Assusta-me também; mas para ele todas as verdades da condição humana, por mais que nos afastassem da tranqüilidade ganhavam logo o contra-senso desta expressão.

Tenho vontade de ligar para falar da cena da montanha. Para lhe dar notícias da doçura do mundo em foco, da beleza daquelas árvores canadenses.

As letras começam a sorrir metodicamente na estrutura dos nomes. Percebo, agora, que o desconhecido sentado ao meu lado não abraçou a minha saudade. Fecho os olhos até que todos saiam; não quero que vejam meus olhos marejados.

O sentimento que se apoderou de mim não era pelo filme, mas me fez vê-lo ainda melhor. Acredito que o vi além dos braços nus da linda atriz, além das montanhas de Charlestone, além das novatas mãos do diretor. O mesmo sentimento que me fez retomar a posição de folha e seguir quase que irracionalmente até a necrópole.


Nota do Editor: Mariella Augusta é bacharel em Direito, mestranda da FFLCH (USP), escritora, autora de "O Fio de Cloto", livro de contos prefaciado por Bruno Fregni Basseto, grande filólogo e vencedor do Prêmio Jabuti. Publicou crônicas no "Jornal das Artes" e artigos em várias revistas acadêmicas.

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