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Crônicas
27/11/2006 - 17h01
O poder da vítima
Rosana Hermann
 

Brasileiro adora coitadinho. Pode ser coitadinho social, intelectual, tanto faz. Sendo coitadinho, leva. Porque brasileiro é muito vaidoso e não há melhor exercício de vaidade no mundo do que ajudar um coitadinho ou sentir compaixão por ele. Aí sim, o vaidoso demonstra todo seu poder e superioridade. A mente nem traz pra consciência, pra não estragar a brincadeira, mas quanto mais o outro for coitadinho mais superior o ego se sente.

Daí, o culto aos coitadinhos.

Os mais espertos percebem que quando ele se mostra uma vítima, vai ter carinho, colinho, dim-dim e aplausos. Quem se faz de vítima sempre leva a melhor, mesmo estando errado. Aliás, estar certo ou errado não faz a menor diferença diante da estrondosa fúria emotiva do coitadinho.

O coitadinho comove.

Alguns espertos que descobriram isso vivem de ser coitadinhos profissionais. Queixam-se o dia todo do mundo das injustiças, do salário baixo, enfim, de absolutamente tudo. A exceção aos momentos de exposição de exemplos de vitimizações são os momentos de auto-elogio. Todo mundo ri e aplaude o coitadinho quando ele se auto-elogia. Sabe por quê? Porque o coitadinho não parece ser uma ameaça a ninguém. É só um pobre coitado.

Tá bom. Vai nessa. O coitadinho esperto é só um vaidoso que ainda não teve oportunidade de ser um tirano. Mas assim que ele começa a melhorar de vida mostra a que veio. Veio para se vingar de seu destino. Veio para colocar-se no lugar onde ele acha que merece, que é exatamente acima de todos os outros. O coitadinho acha que o mundo está em débito com ele e, portanto, tem o direito de reivindicar o que bem entender.

Eu tenho medo dos coitadinhos profissionais. Não dos coitados de fato, os miseráveis, os injustiçados, mas desse outro que descrevo.

Esse coitadinho será o primeiro a cortar a mão de quem lhe ajudou. A puxar o tapete de quem lhe ofereceu o ombro. Porque o coitadinho tem ódio de receber esmolas e migalhas. Ele nutre um ódio mortal por todas as testemunhas de sua condição de momento.

Portanto, se você tem bom coração, é sensível e preza a justiça, seja justo de verdade. Não confunda a vaidade de fazer benemerência com coitadinhos e a real vontade de ajudar alguém que necessita.

Doar-se não é dar o peixe, como se diz. É doar o que você tem de mais precioso, o seu tempo de vida na terra, para ensinar o outro a se virar sozinho.

Ser bom não é ser bonzinho. É fazer com que todos cresçam a sua volta sem medo de ser superado.

Ser bom é ser verdadeiro com o que tem, buscando sempre o melhor, mas mantendo a dignidade de não se fazer de coitado.


Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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