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Opinião
02/12/2006 - 11h05
Quando morre um conservador
Ubiratan Iorio - Parlata
 

No último dia 16, faleceu o Prof. Milton Friedman, aos 94 anos, nos Estados Unidos. Laureado com o Nobel de Economia em 1976, notabilizou-se por sua defesa intransigente da liberdade nos campos econômico, político e de consciência. Considerado o pai do monetarismo, doutrina que, partir dos anos 50, levou para o papel a chamada "tradição oral" da Universidade de Chicago, ousou desafiar o keynesianismo dominante nos cursos de economia no mundo inteiro. De baixa estatura física, não admitia perder nenhum duelo com alunos ou pares, mas, com coragem e forte equipamento intelectual, foi um dos gigantes da liberdade, ao lado de outros valorosos economistas, que não se deixaram contaminar pela falácia maior do século XX, a de que as "soluções políticas" seriam superiores aos resultados voluntários do processo de mercado, como os austríacos Mises e Hayek e outros colegas norte-americanos, do calibre de Knight (mais velho), Stigler, Johnson, Becker (seus contemporâneos) e Sargent e Lucas (bem mais jovens).

Friedman foi muito mais do que o "consultor econômico da ditadura de Pinochet", como nossa mídia - dominada pelos velhinhos da "Irmandade dos Órfãos do Muro de Berlim" - fez questão de frisar nos obituários. Aliás, se o Chile é hoje uma democracia sólida e uma economia que cresce de forma sustentada há muitos anos, a "culpa" é de Friedman e dos Chicago Boys, como são pejorativamente chamados seus ex-alunos e seguidores...

Pois o bom velhinho, além de indicar ao governo militar do Chile o caminho correto das reformas - o que, infelizmente, não aconteceu no Brasil - ousou reafirmar o que era sabido desde São Tomás e os pós-escolásticos: que a inflação, sempre e em qualquer lugar, a par de ser um mal intolerável, é um fenômeno monetário, truísmos considerados crimes de lesa-pátria em plagas latino-americanas, o que levou, apenas no Brasil, a cinco nefandos congelamentos de preços. Aqui, tragicomicamente, ainda se podem ver economistas, colunistas e ministros rupestres dizendo que "afinal, um pouquinho de inflação é até desejável para que o país possa voltar a crescer"... À ignorância econômica embutida em tais afirmativas podemos associar a hipótese plausível de que a memória desses pseudo-"desenvolvimentistas" deve ocupar área semelhante à da cabeça de um alfinete, pois nossa inflação acumulada em quinze anos, de 1980 a junho de 1995, foi de mais de 8 trilhões por cento.

Modernizou a incrível intuição de Richard Cantillon, quando, dois séculos e meio depois, calcado nos avanços da Econometria, mostrou que os efeitos das variações na oferta de moeda sobre a economia real diferiam no curto prazo e no longo prazo. Com isso, demonstrou que não existe dilema, a não ser temporariamente, entre inflação e desemprego e que as políticas ativistas de expansão da demanda apenas aumentam os níveis de emprego e de renda fictícia e transitoriamente. Mostrou também às viúvas do intervencionismo, com outras tintas, o que Hayek já percebera nos anos 30, que, quando os bancos centrais mantêm as taxas de juros artificialmente baixas para "estimular o crescimento", o efeito de longo prazo é a estagflação; que não existe nada grátis em economia; que liberdade econômica e liberdade política são, cada uma, condição necessária para a outra; e que sai mais barato e é mais eficiente que o Estado pague para que todos possam estudar e ter acesso à saúde do que cuidar diretamente desses setores.

Quando morre um conservador, ao invés de enaltecer-lhe as virtudes, nossas carpideiras socialistas entregam-se à compulsão de rotular-lhe rútilos vícios e de lançá-lo ao choro e ranger de dentes do opróbrio, expurgando-o do noticiário, tal como os regimes totalitários que defendem fazem com os dissidentes...

Mas o mundo perdeu um verdadeiro campeão da liberdade.


Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.

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