Ao apagar das luzes de 2006, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva proclamou, euforicamente, solenemente e patrioticamente, que o Brasil tinha se tornado auto-suficiente em petróleo, graças à eficiência do nosso monopólio estatal que, por definição, não têm competidores: a Petrobras.

Mentira? De modo nenhum! Trata-se de algo parecido com um copo d’água cheio até a metade... Do ponto de vista do pessimista, ele está quase vazio; mas do ponto de vista do otimista, ele está quase cheio. Tudo depende do modus res considerandi (modo de considerar as coisas).

De fato, em 2006 o Brasil tornou-se auto-suficiente em petróleo tal como o governo disse, porém o que ele não disse foi que tal notável façanha só teve lugar por causa da ocorrência de um colossal fracasso. Mas como pode um fracasso ser a causa de um sucesso?! O Brasil só se tornou auto-suficiente em petróleo, porque cresceu muito menos do que o esperado. Na realidade, de todos os países da América Latina, só cresceu mais do que o miserável Haiti, o que, aliás, não é nenhuma vantagem! E as vantagens, em Economia, devem ser (must be) sempre vistas como vantagens comparativas.

Por exemplo: indagado se a mulher dele era bonita, um economista habituado a aplicar o método das vantagens comparativas, não teve dúvida em responder: Bem, se você compará-la à Gisele Bündchen, ela é muito feia; mas se você compará-la à Ministra Marina Silva - nenhum parentesco com Luiz Inácio Lula da Silva - ela possui uma deslumbrante beleza. Mutatis mutandis: Se você comparar o Brasil ao Haiti, o Brasil é beleza pura! Mas se comparar o Brasil à Finlândia, ele passa a ser uma tremenda mocréia!

Consideremos que o governo brasileiro poderia ter admitido um estrondoso fracasso quanto ao desenvolvimento do país. Mas, ao invés disso, preferiu acentuar um grande sucesso somente propiciado pelo supramencionado fracasso. Macaco velho no exercício da diplomacia, Rubem Ricupero tinha mesmo razão quando, há algum tempo, naquela bela noite diante de milhões de espectadores da TV Globo, pensando estar em off, disparou: "O que é bom a gente mostra; o que é ruim agente esconde". Oh! Como sofrem aqueles que - mesmo extremamente desejosos - não conseguem esquecer a História!

Mas quem, em sã consciência, faria o contrário do proposto pelo referido diplomata? Ah! Somente aqueles que dão prazeirosamente um tiro no próprio pé! E não pense o leitor que um indivíduo humano - apesar de animal racional! - é incapaz de desejar um mal para si próprio, mesmo sabendo se tratar de um mal, como pensava Platão. A isto, Aristóteles chamou de akrasía (fraqueza de vontade ou fraqueza moral). Mas esta é uma outra estória que um dia desses ainda vou contar...

Nota do Editor: Mario Guerreiro é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).