Metáforas, sinonímias, metonímias, paradoxos e catacreses. Só mesmo o gingado africano pra se misturar com a genuína cultura indígena e com a endurecida língua de Portugal para criar Nossa Língua Portuguesa. E aqui, nenhuma alusão a Pasquali, mas uma alusão sim ao primeiro Museu da Língua do mundo! É engraçado como privilegiamos um Brasil de favelas e falcatruas e colocamos à margem explosões positivas de nossa brasilidade (aqui também não cabe nenhuma alusão à Copa do Mundo!). O nacionalismo que nos acomete na Luz daquela estação cultural é de tantos prismas. De Arnaldo Antunes, no elevador, tocamos Guimarães Rosa no primeiro andar. Um verdadeiro canteiro de obras estrategicamente disposto pela artista Bia Lessa onde nos deparamos com rascunhos da obra Grande Sertão: Veredas, com anotações do autor. E nesse "canteiro" tocamos Guimarães Rosa e em Guimarães Rosa. E tocá-lo significa ter em nossas mãos uma enxurrada de sensações. Significa tocar prosa e transformá-la em poesia (ou no que quiser brincar!). A criatividade é a sensação do museu. A Língua é muito concreta. Na verdade, se você não tomar cuidado tropeça na Língua! Versos só podem ser lidos com espelhos que os refletem. Ou ainda, são construções de dois planos que se sobrepõe de acordo com a distância e o ângulo dos quais são observados. Poesia pura! No segundo andar um espetáculo. 106 metros de tela que vão do chão ao teto refletindo o Brasil, de Norte a Sul. Cultura, música, festas, costumes, expressões populares. Um vocábulo imenso de um Brasil tão desconhecido devido a suas proporções continentais. E ante essa "telinha" permanecemos estáticos. Viajando pelo Brasil montado através de trilha sonora, imagem e texto especialmente dispostos para nos emocionar (e fazer rir em muitos momentos!). Nada comparado a quem esperava ver letras na parede. Também no segundo andar um retrato histórico da formação da língua, suas influências, sua história e seus resultados. Ali se encontra a gênese da imprensa, a linha do tempo de grandes obras e a descrição de uma história tão pouco explorada. E é ali também que está uma grande atração. Uma tela, disposta em formato de mesa onde o intuito dos que a rodeiam é formar palavras. Num jogo em conjunto e jogado com as mãos, os participantes ficam extasiados. A palavra é manuseada até criar sentido. E em volta da mesa nós criamos e recriamos nossos sentidos. Tudo lá é aprendizado. No terceiro e último andar, versos conhecidos enfeitam as paredes e atraem a atenção dos admiradores da Língua. Caderninho e caneta são quase obrigatórios para entrar no museu e quem não os leva se arrepende! O museu da Língua é o experimentar de nossa cultura. Transcende a realidade concreta e nos aproxima da realidade literária, que ali também é concreta. Tudo ali é Língua e a Língua ali é tudo. O concretizar de nossas maiores abstrações. Iniciativas como essa, enchem a nação verde e amarela de luz. Pois ali, na Estação da Luz, existe um Brasil que reflete o que temos de melhor: criatividade, sensibilidade, heterogeneidade e multiplicidade de olhares. Muito além do Brasil de futebol, favelas e falcatruas, que insistimos em documentar. Nota do Editor: Maria Alice Campagnoli Otre é jornalista, Mestranda em Comunicação Social.
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