Se a vantagem do candidato Manuel Rosales sobre Hugo Chávez é tão evidente e tão desconcertante, por que alguns membros de seu comando de campanha insistem em dizer que existe um "empate técnico"? Em dezembro do ano passado, quando a oposição se absteve de participar das eleições, apenas 9 por cento dos venezuelanos acorreram à votação. Então, por que a própria oposição atribui a Chávez 40 % de respaldo? Por acaso temem dizer a verdade, que vão ganhando com ampla margem? Nas últimas três semanas Chávez ameaçou a oposição com um banho de sangue se se atrevessem a tirá-lo do poder. É de se supor que - se é isso o que ele diz em público - fez chegar mensagens privadas ainda mais graves ao comando de Rosales, responsabilizando-o do que possa ocorrer por defender seu triunfo. Sei bem do que falo. Nunca em minha vida recebi tantas pressões e ameaças como em dezembro de 2001, quando organizei a primeira marcha à Miraflores. Apesar de ser um protesto pacífico, que contava com todas as autorizações, membros do oficialismo me exigiram suspender a marcha, responsabilizando-me pelas possíveis mortes que haveriam (provocadas por eles mesmos, certamente). Como dado curioso, também recebi pressões da própria oposição. Estou convencido de que fizeram o mesmo com Enrique Mendoza no ano de 2004, durante o Referendo Revocatório. Disseram-lhe que se induzisse as pessoas a irem às ruas para defender o triunfo da oposição haveria mortos, como de fato ocorreu no dia seguinte na Praça Altamira. A lógica do Regime é simples e ao mesmo perversa: se Rosales ganhar as eleições - como evidentemente ocorrerá - e o Regime cometer fraude, então a oposição deverá aceitar submissamente a "derrota" porque, do contrário, se desencadeará a violência. Segundo a lógica oficialista, os culpados não serão aqueles que exerçam a violência de maneira injusta e arbitrária mas as vítimas inocentes, por querer defender seus direitos de forma pacífica e, em última instância, o principal culpado seria o próprio Rosales. Ao Regime, sabendo-se perdido e sem respaldo popular, não lhe resta outro remédio que recorrer à ameaça, porém confio em que a chantagem não prevaleça neste momento histórico, quando está em jogo não só o futuro da Venezuela mas o de todo o continente americano. Nota da Tradutora: Este artigo foi escrito em 21 de novembro de 2006 e está sendo divulgado novamente, pelo próprio Peña Esclusa, para que se possa compreender a aceitação "tão rápida" e a passividade de Manuel Rosales diante de uma derrota fraudulenta. Se não estivesse baseado em fatos vividos pelo autor, portanto, de uma experiência concreta de como age o regime castro-chavista, poder-se-ia dizer que tratava-se de premonição. Tradução: Graça Salgueiro.
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