Se eu não detestasse tanto essa ladainha de ’guerra dos sexos’ eu diria que os homens são muito mais vaidosos do que as mulheres em todos os sentidos e que são eles que mais praticam este esporte, o da projeção do próprio ego em tempo integral. Mas vou deixar a competição do mundo feminino contra o masculino para os programas infantilóides de tv e fazer uma análise assexuada destas ocorrências. Não é específico do mundo dos machos, é uma característica das personalidades egocêntricas em geral. Fato é que tem gente que não pode ver, ler, ouvir uma única notícia no rádio, na tv, jornal ou Internet sem imediatamente fazer a conjectura-chavão: "se fosse eu...!". Acompanhar um telejornal ao lado dessas pessoas é praticamente uma tortura. Tudo orbita em torno delas. Se ela fosse o Lula mandaria tal ministro pra rua, se fosse o juiz condenaria o réu, se fosse a cantora não teria ido buscar o prêmio. Se fosse a apresentadora jamais iria à festa sem calcinha e, claro, se fosse o namorado dela, teria terminado tudo. Se fosse o diretor do filme teria mudado o final. Se fosse o editor do jornal não permitiria tantos anúncios. Se ela fosse o prefeito daria um jeito nas inundações. Aliás, se ela fosse São Pedro nem estaria mandando chuva agora. Esse tipo de personalidade é mais comum do que imaginamos e tem também suas nuances. Quando a pessoa que se projeta em tudo percebe que todos numa sala já notaram que se ela fosse qualquer outro ser, faria tudo muito melhor, ela dá um passo atrás e altera um pouco o método. E deixa de conjecturar sobre o que faria se fosse a outra para contar de fato tudo o que de melhor ela já fez. E aí começa a cantilena de auto-elogios e auto-enaltecimento. No tempo da faculdade ele era o mais bacana, o melhor do quarteirão, o chefe mais sensato, o funcionário mais eficiente. Enfim, ele sempre foi o melhor no passado e, claro, teria sido melhor no lugar de qualquer outra pessoa. O que acontece com esses seres humanos? Eles acreditam mesmo que são melhores do que todos? Não, eles sabem que não são. E na verdade, sentem-se inferiores a todos os outros, idéia que os apavora. São medrosos, inseguros e tudo o que dizem tem por objetivo aplacar ou disfarçar esta insegurança. Esses reis do blablablá, teóricos da vida, falam muito mais do que realizam, imaginam muito mais do que agem e vestem-se com o manto da perfeição apenas para que não desnudemos suas fraquezas. São pessoas carentes, que se sentem injustiçadas, inferiorizadas e em cada oportunidade vêem uma chance de chamar a atenção para si. Quando você perceber alguém assim a sua volta, não o odeie, não o trate mal. Veja nele apenas alguém lutando contra seu pavor pela mediocridade. E se algum dia você descobrir em si próprio uma tendência a fazer o mesmo, não sinta auto-piedade. Somos todos inseguros, vaidosos, tentando ser mais do que somos, lutando contra a dolorosa consciência da nossa própria finitude, sofrendo de mansinho por saber que o mundo vai continuar exatamente como sempre foi depois que a gente se for, exatamente como sempre existiu antes de chegarmos aqui. Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.
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