Adriano Levandoski de Miranda, 27 anos, no dia do seu aniversário, no caminho de todos os dias rumo ao trabalho, teve um gesto de grandeza que certamente marcará sua vida para sempre. Adriano atirou-se no rio Pinheiros, “rio” situado numa das avenidas marginais da cidade de São Paulo, para salvar a vida de uma criança que havia sido atirada às águas pútridas pela própria mãe, que pretendia se suicidar e pulou abraçada junto à criança de apenas 3 anos. Adriano Levandoski de Miranda, 27 anos, no dia do seu aniversário, no caminho de todos os dias rumo ao trabalho, teve um gesto de grandeza que certamente marcará sua vida para sempre. Adriano atirou-se no rio Pinheiros, “rio” situado numa das avenidas marginais da cidade de São Paulo, para salvar a vida de uma criança que havia sido atirada às águas pútridas pela própria mãe, que pretendia se suicidar e pulou abraçada junto à criança de apenas 3 anos. Não, prezado(a) leitor(a) [Atenção, editor! Favor manter como está]. Não houve nenhum erro na edição dessa crônica. A repetição do parágrafo inicial é proposital – é, digamos assim, uma “manobra” (um tanto abusada, diga-se) de estilo. A intenção é frisar o ocorrido, o fato em si, sem adjetivações ou juízos de valor. Para que a mensagem fique gravada em sua mente até, no mínimo, chegar ao final desse texto. Para que não se esqueça que ainda existem pessoas capazes de gestos como esse. E, veja bem, na cidade de São Paulo! A cidade do individualismo levado ao extremo. A cidade do “salve-se quem puder”. A cidade fria e cinzenta, repetindo aqui o seu mais perfeito estereótipo – ou seria a sua mais perfeita tradução? Para quem não é de São Paulo ou não conhece muito bem essa grande cidade, o rio Pinheiros, na verdade, é um esgoto a céu aberto. Esse cidadão, o Adriano de Miranda (não é meu parente, esclareço), ainda “roubou” uma moto e saiu dirigindo na contramão, para assim chegar mais rápido a um ponto específico da margem, também ela cheia de lixo, onde pudesse resgatar a criança de, repito, apenas 3 anos. O sujeito, todo arrumado para ir ao trabalho, e ainda no dia do seu aniversário, teve o desprendimento e a coragem de pular num esgoto e arriscar a sua vida para salvar a vida alheia. Não vou aqui me arvorar a julgar o gesto da mãe, que resolveu buscar a morte e se atirar num rio imundo abraçada ao seu filho – o gesto é condenável em todos aspectos, indubitavelmente. Ela merece ser processada e condenada por tentativa de homicídio (do filho, claro)? Não sei. Melhor seria que recebesse acompanhamento médico e fosse submetida a um tratamento psiquiátrico? Acho que essa segunda alternativa parece-me mais adequada, sensata e humana – mesmo não havendo humanidade alguma, seja na Justiça, seja em nós todos ou em seu tresloucado gesto. O que desejo aqui é ressaltar o gesto desse homem, um homem comum, como outro qualquer e não um “herói” – em absoluto! Um homem, como todos os outros, com seus anseios, medos, limitações, aflições, alegrias, tristezas etc. Ressaltar o gesto em sua dimensão real. Antes que a sociedade em seu eterno espetáculo transforme o homem em uma celebridade de ocasião nas vitrines iluminadas da mídia, a desfilar em programas de auditório como Faustão, Hebe Camargo, Gugu e tantos outros. Certamente será pauta do “programa do Jô” – como diz a nossa classe média indigente, que, por sinal, não vai para a cama sem as chatices e a “simpática presunção” do gordo. Antes até que o rapaz seja convidado a posar para a “G Magazine” – se fosse mulher, posaria para a Playboy, decerto. Talvez seja convidado também para apresentar um programa para crianças na TV. Talvez seja convidado para um filme em que faça o papel de herói, ao lado do nada heróico Renato Aragão, vestindo capa e espada inclusive. Talvez pose para fotos ao lado do presidente da República. Talvez. Portanto, não percamos, antes que o deprimente “espetáculo” da eleição do herói do ano se inicie, a pedagógica dimensão do gesto do rapaz que, por sinal, é filho de proletários, e, talvez por isso, ainda lhe reste valores que o tenham impulsionado ao gesto. Dificilmente, um filho da classe média – sim, da mesma classe média que se refestela na cama ou no sofá assistindo ao “programa do Jô” –, dificilmente um filho dessa mesma classe média se atiraria naquele rio-esgoto para salvar a vida de uma criança. Dificilmente. Como sabemos, o “espetáculo” dilui a essência do fato/ato. Por isso, repito agora, novamente, o primeiro parágrafo dessa crônica, o trecho que registra o fato em si, como disse, sem adjetivação, emoção ou recursos estilísticos – portanto, sem artifícios literários. Pois, certamente, você, a essa altura, já deve tê-lo esquecido – o parágrafo, não o fato em si, é claro. Não estou certo? Vamos a ele então. Adriano Levandoski de Miranda, 27 anos, no dia do seu aniversário, no caminho de todos os dias rumo ao trabalho, teve um gesto de grandeza que certamente marcará sua vida para sempre. Adriano atirou-se no rio Pinheiros, “rio” situado numa das avenidas marginais da cidade de São Paulo, para salvar a vida de uma criança que havia sido atirada ao rio pela própria mãe, que pretendia se suicidar e pulou abraçada junto à criança de apenas 3 anos. Isso é o que de fato importa. Um gesto decerto grandioso em meio ao esgoto, em meio à cidade pardacenta, em meio a tanta pressa e urgência, em meio a tanta pequenez e mesquinharia. Tanta pequenez e mesquinharia.
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