São recorrentes, em dezembro, manifestações de desagrado sobre os hábitos típicos deste período. Critica-se Papai Noel, pinheirinho de Natal, corrida às compras, feriados e feriadões. Neste ano, Hugo Chávez subiu em tamancas ainda mais altas e determinou que as repartições públicas venezuelanas evitem o uso desses símbolos imperialistas que não guardam relação com as tradições "bolivarianas". Ele parece não saber: a) que São Nicolau, personagem que deu origem a Papai Noel, era um bondoso bispo do 4º século na cidade de Mira, atual Turquia; b) que sua associação às festas natalinas começou na Alemanha; c) que o reprovado pinheirinho corresponde a tradições anteriores ao cristianismo; e d) que sua introdução nos arranjos de Natal também é de origem germânica. Embora desagradáveis a quem considera a ideologia mais prazerosa do que sexo e, por isso, politiza qualquer coisa, inclusive o sexo, as tradições relativas ao final de cada ano são milenares e universais. O que mais impressiona nessa overdose ideológica que chega à náusea com a proximidade do Natal é a condenação à prática de trocar presentes. "Consumismo escandaloso!" exclamam, aparentemente idealizando uma ceia natalina com apertos de mão, café com leite, pão dormido e margarina. No entanto, os presentes e as vendas próprias do período mais do que duplicam o faturamento do comércio em relação aos demais meses. E isso não é ruim. Ao contrário, é muito bom. Mas eles estão convencidos de que consumo é coisa reprovável, capitalista e mesquinha. Sequer lhes passa pela cabeça a idéia de que se todo mundo deixar de comprar durante um mês, no mês seguinte o mundo todo estará desempregado... Ao mesmo tempo, os adeptos dessa economia que se constitui numa perfeita contradição em termos, querem-na exatamente assim, socialista ou comunista, e, de lambuja, estabilidade no emprego, redução da jornada de trabalho, educação e saúde gratuitas e de qualidade, bons salários, total liberdade para dizerem o que pensam e nenhuma para quem divirja do que dizem. E esperam, é claro, que tudo seja custeado por uma atividade econômica voltada para a produção de sabe-se lá o quê para sabe-se lá quem. Em Cuba, conta-se a anedota de dois cubanos que se encontram nesta época do ano. Um deles pergunta: "Como será el año que viene?" Ao que o outro responde: "Será un año de consumismo". Surpreso, o primeiro volta a indagar: "Consumismo? Aquí en Cuba?" "Sí, claro", diz o amigo. "Con su mismo pantalón viejo, con su mismo calzado, con su mismo miserable salário". Agora, meu caro leitor, tente explicar isso a um socialista. Ele virá com a mais generosa reflexão sobre um Éden onde todos têm tudo porque tudo é partilhado, embora nunca, em tempo algum, mesmo nos laboratórios dos socialistas utópicos, isso tenha apresentado resultado que se aproveite. E se Chávez quiser um Natal 100% venezuelano ou "bolivariano" terá que subir ele mesmo numa cruz. O que, convenhamos, não é má idéia. Nota do Editor: Percival Puggina é arquiteto, político, escritor e presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e Administração Pública.
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