Estou em Vila Velha, na Praia da Costa (grande Vitória/ES), onde está concentrada a maior parte da minha família. Mais precisamente no edifício Sereia, o primeiro "arranha-céu" construído em meados dos anos 70. Meus pais moram aqui desde 1981. Naquela época, todo mundo sabia onde ficava o Ed. Sereia, não precisava dar nome de rua, número, nada, era só falar, moro no Sereia, no apartamento número tal e pronto, o endereço já estava dado. Passados 15 anos, como tudo mudou. A praia está cheia de prédios enormes e suntuosos. O sol já não aparece depois das quatro da tarde, e o ex-famoso edifício Sereia sumiu no meio da floresta de concreto. Não estou aqui para criticar o progresso e a especulação imobiliária, principalmente porque sendo moradora do Sereia, me sinto meio que cúmplice disso tudo que está aí, afinal ele foi o pioneiro. Com o progresso desordenado, veio o barulho, e o sossego foi substituído pelo "agito". A velha calçada da orla da praia deu lugar a um calçadão bonito, e urbanizado, com castanheiras e coqueiros, jardins com bromélias e também uma vegetação nativa, onde todos os dias, caminham os adeptos da vida saudável, onde a galera da "melhor idade" pratica aeróbica, e nas tardes de sábados, domingos e feriados passeiam todos os tipos de pessoas. A calçada abriga também, em sua parte mais larga, uma verdadeira feira, com barraquinhas de lanches, doces, artesanato, roupas e até livros usados. O antigo e solitário bar do MUG, que ficava logo no começo da praia, que agora virou o meio, deu lugar a quiosques de design arquitetônico moderno, que me fazem lembrar chapéus de freiras, daquele seriado antigo de TV "A noviça voadora". Quando começa a escurecer, o horizonte vai ficando todo iluminado pelas luzes dos navios que enchem de brilho e dão uma tonalidade toda especial ao azul escuro do céu e do mar. A noite chega, e o movimento da calçada vai dando lugar ao burburinho dos bares e restaurantes, carros passando tocando funk numa altura que incomoda. Atrás da Avenida da praia, foram erguidos prédios gigantescos, totalmente desproporcionais à largura da rua, um tanto estreita. É por esta rua que tenho caminhado todos os dias quando vou para o curso de informática, e apesar da pressa, não deixei de reparar, que numa calçada feia e cinza, rente a um muro igualmente feio e cinza, que cerca um dos raros terrenos ainda vazios, crescia um pequenino e singelo arbusto de flores amarelas com detalhes azuis meio arroxeados. Não é uma flor vista naqueles suntuosos jardins babilônicos que enfeitam os prédios dali das redondezas. Provavelmente fora plantada ali por algum passarinho, e dava uma alegria toda especial àquela paisagem insignificante. Pensei em tirar uma foto para depois retratá-la em um quadro, mas no outro dia, elas já não estavam mais lá. Haviam "limpado" a calçada.
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