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Opinião
15/12/2006 - 18h02
Crítica militante
Ipojuca Pontes - MSM
 

A chamada crítica cinematográfica atuante nos segundos cadernos da grande mídia é, toda ela, salvo exceção, conivente com o processo de espoliação que faz do recurso público uma cornucópia insondável para o desfrute da casta que "pratica" cinema no Brasil. De ordinário, o crítico, militante vermelho ou inocente útil, finge ignorar que a atividade subtrai anualmente mais de meio bilhão de reais do erário nacional, sem nenhum retorno econômico, um acinte para o País cuja população pobre vive no desamparo, muitas vezes à céu aberto, enfrentando problemas elementares de saúde, educação, subnutrição e desemprego (enquanto Cacá Diegues, o Sinhozinho do cinema, faz filmes de R$ 10 milhões com o dinheiro das estatais).

Só para exemplificar: no exame das relações do cinema com a miséria cito o caso da doméstica Severina Belisário, moradora da periferia da Mata Atlântica (Xerém), que foi autuada por cortar árvores e transformá-las em lenha para cozinhar o feijão. Na delegacia, interrogada sobre o motivo que a levara ao ato criminoso de causar dano ao meio ambiente, a mulher foi objetiva: "E eu ia cozinhar com quê? Não sou rica para comprar por R$ 33,00, toda semana, um botijão de gás!". De fato, o gás fornecido pela Petrobras é um dos mais caros do continente e, como se sabe, a empresa não subsidia consumidores de baixa ou nenhuma renda.

Na mesma linha de aberração, sabe-se que 35% dos trabalhadores residentes nos longínquos subúrbios das principais metrópoles do País estão acordando duas horas mais cedo para ir a pé ao trabalho, em razão dos elevados preços das passagens dos transportes coletivos - estes, por sua vez, ocasionados pelos sucessivos aumentos de preços do óleo diesel e da gasolina determinados pela poderosa estatal.

Sim, não há dúvida: a Petrobras é uma espécie de Robin Hood às avessas - ela tira dos pobres para privilegiar os mais ricos. Com efeito, explorando a população indigente, a trilionária empresa pública prodigaliza milhões de reais para a produção de filmes insolventes, cuja preocupação básica é fazer a lavagem cerebral do espectador indefeso. Como não existe almoço grátis, a estatal do petróleo, hoje acusada de agir como instrumento de aliciamento político, abastece firme a cornucópia perversa, cujos beneficiários se dizem empenhados na busca da "identidade nacional" e na "denúncia das desigualdades sociais" - claro está, com o dinheiro do consumidor explorado.

A crítica de cinema no Brasil é, em geral, feita por gente transitória, inculta, politiqueira ou de má fé. Gente que desconhece os rudimentos de economia, teoria do conhecimento ou teoria política, estética, história - até mesmo história da arte e do próprio cinema. Suas opiniões são moduladas, via Internet, nos trololós críticos publicados no New York Times, Washington Post ou Le Monde. Quase nenhum faz assinatura de revistas estrangeiras especializadas.

Tem ainda os que são safos e defendem teses ao cabo dos estreitos cursos de comunicação da USP ou da UFF (especializados em promover os rescaldos da "estética da fome", a charlatanice da "desconstrução" e o círculo vicioso do estruturalismo retardatário), ambas a estabelecer como norma o desprezo à busca da diferenciação entre a verdade e a mentira na esfera do conhecimento. (Nos templos do pensamento único os mentores de tais cursos imaginam que, assim procedendo, estão promovendo a criação de um "senso comum transformador").

No plano ideológico, essa gente, pela incapacidade de pensar por conta própria e para servir às idéias dominantes nas "editorias culturais", nitidamente esquerdistas, se estreita na ratoeira do nacionalismo ("último refúgio dos canalhas") vulgar, na intolerância djanovista aos filmes de mercado (americanos) e na cartilha cultural do "politicamente correto" - os três estandartes do engajamento militante. (Maliciosos, os "trouxas" pensam em ganhar, assim, de uma só vez, o respeito dos caciques do cinema novo, de pesquisadores da famigerada USP e, contraditoriamente, passagens e estadias para os lançamentos internacionais promovidos pelas "majors".)

Por que escrevo sobre assunto tão desprezível quanto inútil? Bem, é que o crítico de cinema do Estadão, o sr. Luiz Orocchio Zanin, a pretexto de comentar as peripécias do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, a própria cidadela da propaganda comunista bem abastecida pelos cofres públicos, sem exame mais profundo da questão a não ser os ditados pela subserviência ideológica, retorna ao velho lenga-lenga de acusar "os efeitos do furacão Collor-Ipojuca Pontes" sobre o parasitário cinema estatal, na certa por ter sido fechada (em 1990) a Embrafilme, reconhecido antro de fraudes e safadezas.

Ao que tudo indica, o sr. Zanin deve pertencer ao grupo dos "safos" e, por isso, prefere atacar os que repudiam a distorcida interferência do Estado no cinema em vez de procurar entender os mecanismos que fazem do povo brasileiro carne disforme a ser triturada pela ação do governo, responsável, em larga escala, pela permissividade reinante.

Estou a fim de aprofundar a questão e quero mostrar porquê o sr. Zanin, a pretexto de defender a imagem santificada do sanguinário Guevara, detonou "A Cidade Perdida", o belo filme de Andy Garcia. No seu arrazoado, a demonstrar ignorância ou má fé sectária, o militante do pensamento único escamoteia o fato de que "Che" matou friamente, de arma em punho, alguns dos 55 detentos de La Cabana, a masmorra que o guerrilheiro fanático dirigiu em Havana após a fuga de Fulgêncio Batista em 1959.

Resultado: como resposta, longe da lenga-lenga da crítica e das intenções cubanófilas dos cineastas abastecidos com a grana fácil da Petrobras, o grande público, salvo exceção, ignora o cinema parasita do Estado - uma entidade, fora do gueto, absolutamente descartável.


Nota do Editor: Ipojuca Pontes é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.

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