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Crônicas
17/12/2006 - 12h05
Brinquedos
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

Foi lançada no mercado brasileiro uma boneca absolutamente prodigiosa, capaz de falar dezenas de frases e de mudar a expressão facial no diálogo com a sua pequena dona. A boneca custa por volta de R$ 800 e, obviamente, será a sensação das compras natalinas, dividindo a classe média em dois grupos, aqueles (poucos) que podem comprá-la e aqueles que vão reclamar do absurdo que representa uma oferta dessas. E aí emerge uma questão importante: o que é, mesmo, um brinquedo? O que significa um brinquedo para uma criança ou para um adulto?

Brinquedo é coisa antiga: na Europa são numerosos os museus que conservam bonecas e outros objetos com os quais as crianças brincavam num passado não raro remoto. Brinquedos e histórias atendem a necessidades infantis, e de um modo similar: em ambos os casos trata-se de usar a imaginação como uma forma de dar vazão à fantasia. E precisamos dar vazão às nossas fantasias. Guardadas dentro de nós, elas nos prejudicam, nos intoxicam. Quando uma menina repreende sua boneca, está deixando de repreender a si própria, com óbvios benefícios.

O que a tecnologia está fazendo é prever esta interação, é fazer dos brinquedos entidades cada vez mais autônomas. O videogame é um exemplo: ali está o bandido, armado, desafiando o jogador que depende de sua habilidade para eliminá-lo. Mas e quando a tecnologia não dispunha de tais recursos? Como é que as coisas funcionavam?

Penso na minha própria infância, uma infância pobre (ainda que não indigente: fome não passávamos) vivida no bairro do Bom Fim. Não lembro, até certa fase de minha vida, de ter tido um único brinquedo comprado em loja. Brinquedos, a gente fazia. No meu caso, eu contava com uma facilidade: a fábrica de móveis do meu tio. Eu usava os pedaços de madeira que sobravam para fazer os meus brinquedos. E que brinquedos eram esses? Brinquedos de guerra, naturalmente, semelhantes àqueles que a gente via nos filmes. Uma pistola automática, por exemplo. Ou um avião. Ou um destroyer. Cujos canhões eram pregos. A corrida bélica naquela época era resolvida com muita simplicidade: quanto mais pregos num navio de madeira, maior o poder de fogo. E pregos não eram muito caros. Os modernos traficantes de armas certamente nos invejariam.

Dá para comparar aqueles brinquedos com os de agora? Não, não dá. Eram coisas simples, toscas mesmo. Diferente era a nossa imaginação. Porque ela era muito mais mobilizada, muito mais exigida. Fico me perguntando se estes brinquedos não ajudaram a que eu me tornasse um escritor. Acho que sim.

Notem: não estou dizendo que antigamente era melhor, uma frase que, no meu modo de ver, deveria ser abolida, porque, além de não ser verdadeira, não ajuda as pessoas em nada. Os brinquedos de hoje introduzem a criança à tecnologia, e tecnologia em nosso mundo é palavra-chave.

Mas imaginação é mais importante ainda. Imaginação muda a nossa vida. Se a imaginação transforma um pedaço de madeira com pregos num navio poderosamente armado, então seguramente estamos prontos para conquistar o mundo.

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