Recentemente, buscando vídeos de brigas na televisão, revi a cena de um desentendimento verbal que quase chegou às vias de fato, entre o jornalista Jorge Kajuru e o pugilista Marinho. A briga, que muitos já viram aconteceu ao vivo diante das lentes da TV Bandeirantes. Antes da ameaça física, Marinho, que não é um teórico, diz que Kajuru não é homem. Compreensivelmente intimidado diante de um profissional da porrada, Kajuru responde que ele não é homem é jornalista. Não foi bem essa a frase que ele disse, mas foi o que ele comunicou. Destravei o lacre do preconceito e comecei a pensar na frase e não no autor, já que também eu sou jornalista e não sou homem. O que Kajuru disse, proferido num momento de impulso instintivo, revela um princípio ético bastante interessante sobre jornalistas, começando com o fato de que sua isenção profissional deve estar acima de seus sentimentos pessoais. Ali estava Jorge, discutindo dentro de seu trabalho, no exercício de sua profissão. É como se ele dissesse a si próprio, ’não posso aceitar essa ameaça de briga porque quem está aqui agora não é o homem, mas o jornalista’. O jornalista, pelo menos tal qual o concebemos até o século passado, deveria ser um profissional isento, alguém treinado a colocar a isenção acima de seus interesses pessoais, a verdade acima de suas crenças particulares, a correção antes de seus preconceitos. O jornalista pré-photoshop e pré-Internet, não alteraria uma foto para vender mais, não passaria adiante uma inverdade movido pela pressa de publicar primeiro em tempo real. Claro que a Internet não é culpada de nada e que as manchetes sensacionalistas com o intuito de chamar a atenção e ampliar as vendas sempre existiram. Mas a modernidade certamente exige de cada segmento uma adaptação. É preciso rever o jornalismo em tempos de dábliu dábliu dábliu. No novo jornalismo intempestivo, apressado, capitalista e competitivo ao extremo, há muitos profissionais que querem ser notícia acima da notícia. Querem ser estrelas do espetáculo. Querem ser artistas antes de serem jornalistas. E nesta busca egóica pela projeção pessoal, onde a estética fica acima da ética, acabam deixando de ser jornalistas e deixando de ser humanos. Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.
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