A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o Banestado foi criada há pouco mais de um ano. A finalidade dela é investigar movimentações suspeitas de recursos, através das contas CC-5. Na verdade o que interessa é saber quem enviou para fora do Brasil mais de trinta bilhões de dólares - há quem afirme ser o montante muito maior, algo em torno de oitenta bilhões - de forma ilegal, sem declaração e sem comprovação de origem. Dinheiro obtido em patranhas, em negociatas, dinheiro que significa menos hospitais, menos escolas, menos cidadania, dinheiro surrupiado do suor do trabalhador, do sangue daqueles que serão permanentemente excluídos por uma minoria de vampiros sociais que vivem de exaurir a nação. Esse dinheiro vai ser transformado em roupas de luxo, apartamentos em Paris, jatinhos, automóveis, iates e toda a parafernália dos ricos que necessitam mostrar que o importante é ter. Tudo indica que os donos desse dinheiro ficarão impunes, correndo inclusive o risco de serem agraciados com cargos no Itamarati e assim administrar melhor a fortuna ilegal. Desde que a CPI foi criada alguma coisa me dizia que seria como construir um galinheiro e convocar a raposa para administrá-lo. Minha intuição também fazia prever que se a investigação avançasse muito iria ter obrigatoriamente de apontar nomes do primeiro escalão da vida pública nacional. Chegou a hora disso acontecer e daí o jogo de empurra-empurra. Um fica livre de ser convocado para depor porque é amigo do presidente, outro vai ajudar no processo eleitoral e assim a pizza vai tomando forma. Há no Brasil uma classe de cidadãos intocáveis. Estão no poder desde que Cabral aqui aportou e tomou posse da terra em nome do Rei de Portugal. O que é publico não é de ninguém, é de quem pegar. Dois para o Rei, um para mim. Assim funciona o Estado. Se compararmos o patrimônio de políticos e altos funcionários dos três poderes e os proventos recebidos durante a atuação na vida pública ficaremos defronte a impasses aritméticos. Não há forma das contas fecharem. Figuras notáveis e conhecidas da vida nacional entraram na política sem nada, vieram de famílias da classe média, sem recursos e alguns anos depois compraram jornais, estações de televisão, jatinhos de milhões de dólares, casas suntuosas e passaram a viver como nababos. O dinheiro caiu do céu. A sociedade brasileira acha isso natural, é evidente que não há como justificar os gastos se comparados com os ganhos. É assim, pensa o povo, assim sempre foi e sempre será. O mundo é dos espertos, a eles estão reservadas as melhores batatas. A CPI do Banestado poderia ser um marco divisório nessa forma arcaica de pensar. Entretanto, vai acabar apontando elementos menores, os laranjas de sempre. Peixes gordos continuarão fazendo e desfazendo e rindo da cara daqueles que teimam em acreditar em honra, trabalho e dignidade como forma de existência. Uma vez eu escrevi e vou repetir agora o que me parece a cada dia que passa mais claro. Caso a CPI do Banestado insista em apontar quem enviou dinheiro para o exterior ilegalmente, através das contas CC-5 e tente levá-los às barras dos tribunais, o Brasil entrará em guerra civil. Os donos do poder não gostam de ser confrontados. Se apontados reagem raivosamente, como cães que são.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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