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SEÇÃO
Crônicas
20/12/2006 - 15h00
Um grito
Chico Guil - Agência Carta Maior
 

"Na rede de orgulhos felpudos
e narizes empinados
que se coçavam dentro do Congresso,
o vento da democracia passou assobiando,
sem vênias.
"

Não sei qual é a desses animais de boca grande. Que espécie de trauma, de complexo, de tristeza os põe assim famintos dessa fome miserável que devora e devora e devora? O que será necessário para matar essa fome, esse vício, esse buraco negro de seus espíritos de porco?

Pior que levar impunemente, de assalto, esses milhões que poderiam matar a fome e as dívidas de tanta gente honesta, pior para mim é escrever essa crônica pecaminosa quando poderia estar descrevendo as tardes frescas de verão, só eu, os cães e os gatos da vizinhança e a lua crescendo ao som do violão. Desculpe, leitor, tenho de falar dos porcos, da sujeira, da maldade, da indiferença, da violência não apenas quanto ao rombo no orçamento, mas desta rude situação em que nos deixam, pelados diante de um paredão de pedras, impossibilitados de lutar. Apenas gritamos, gritamos, e nossas vozes vão ficando fracas, até quando tudo se junta aos sons circundantes, e já nem lembramos o que e para quem gritávamos. O saldo: crianças famintas, estradas em buracos, fortunas crescendo, os milionários cada vez mais ricos e indiferentes e nenhum dos assaltantes manifesta indignação sobre o acúmulo de renda, pois também fazem parte do grupo dos acumuladores.

Dê uma olhada aí na sua cidade, leitor, e veja de onde eles saíram. Como foram criados. Quantos nasceram na favela ou na roça? Quantos sentiram na carne a diferença de trinta reais no fim do mês?

Eu os invejo, por essa vida de ribalta sem dor e sem amor. Jamais serão avisados das vítimas de suas canetas sanguinolentas. Não os alcançarão os gritos dos amassados pelo arrocho, dos imprensados pelas leis, dos massacrados pelos impostos, dos mortos pela fome. Seus sentidos são treinados contra essas imagens indignas. A vida é leve e generosa para quem ganha R$ 24.000,00 mensais + comissões + extras. Suavidade para falar das artes, vento leve para ouvir o violino, filhos estudando na Europa, cônjuges apaixonadas, amantes satisfeitas, sorriso lindo na coluna social.

Prove-me alguém da verdade, não das leis, sobre a diferença salarial entre um mecânico de automóveis e um juiz. Diga-me, por que um médico deveria receber 10 ou 100 vezes mais que o jardineiro? Onde está a razão de um legislador ganhar 70 vezes mais que o plantador de milho? Como justificar a diferença salarial entre o especializado gourmet e o Senhor Senador? Em que um desses profissionais é melhor que o outro? Falem da oferta e da procura, da lei de mercado, dos acordos entre anjos e diabos, do poderio econômico, mas não venham me dizer que há uma razão humana, correta, justa e sensata, quando trabalhadores especializados em suas dificílimas, árduas e perigosas funções recebem até 100 vezes menos que indivíduos cujo único esforço é inventar mentiras, assinar papéis e administrar fofocas.

Está talvez provavelmente comprovado que não se sabe se o mensalão não existia. Mas agora existe.

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