Mesmo com o arrocho da fiscalização, mercado paralelo responde por 50% dos óculos comercializados no país, prejudicando a economia e a saúde visual.
O combate ao contrabando e entrada de produtos falsificados no Brasil através de ações da Polícia Federal, Receita Federal e Polícia Rodoviária resultaram em apreensões recordes em 2006. Só na área óptica, este ano mais de 2 milhões de unidades de óculos de sol, de receituário e lentes foram apreendidas. Segundo a Receita Federal, a maior retenção de produtos ilegais realizada nos últimos 10 anos no sul do país aconteceu em Pelotas (RS), de 29 de novembro a 1º de dezembro, quando foi apreendido R$ 1 milhão em mercadorias, entre elas óculos e armações que ainda não foram contabilizados. Apesar do esforço, a ABIOTICA (Associação Brasileira de Produtos e Equipamentos Ópticos) estima que a pirataria e o contrabando respondam por 50% dos cerca de R$ 1,2 bilhão movimentados pelo setor em 2006. Com pouco dinheiro no bolso o consumidor se vê seduzido por falsificações de grifes que chegam ao Brasil com preço até 90% menores, especialmente com a proximidade do Natal que lota os centros de pirataria como a 25 de Março. Resultado: as empresas amargam prejuízo e a saúde ocular é colocada em risco. De acordo com o oftalmologista do Instituto Penido Burnier e do Hospital Albert Einstein, Leôncio Queiroz Neto, o problema imediato para a saúde são as distorções de imagem e desconforto físico como dor de cabeça, náusea e tontura. A longo prazo aumenta a chance de contrair doenças na córnea, conjuntiva, cristalino e retina pelo excesso de exposição à radiação ultravioleta emitida pelo sol. Óculos de sol exigem cuidado dobrado No final de ano, fazer estilo nas praias com lentes escuras sem proteção é mais nocivo à saúde dos olhos do que não usar nada, ressalta Queiroz Neto. Isso porque, no escuro as pupilas dilatam e os olhos ficam mais expostos à radiação que é cumulativa. Mesmo assim, um levantamento feito pelo médico com mil pessoas aponta que menos de 1% das pessoas tem consciência da necessidade de proteger os olhos do sol. O baixo custo dos óculos de camelô nem sempre permite que as lentes recebam tratamento para proteger os olhos, comenta. Ele diz que as principais doenças oculares que podem ser causadas pelo excesso de exposição ao sol são: fotoceratite, pterígio, catarata e degeneração macular. A fotoceratite, explica, é a inflamação da córnea causada pelo ressecamento da lágrima. O pterígio, uma reação que ocorre na conjuntiva causando seu espessamento caracterizado pelo crescimento de uma carne esponjosa na parte externa do olho, como resposta ao ressecamento provocado pelo UV. A excessiva exposição ao sol, adverte , leva à catarata precoce que é a opacificação do cristalino devido à destruição de suas células. Já a degeneração macular, maior causa de cegueira irreversível no mundo, é a desorganização das células da mácula, parte central da retina responsável pela visão de detalhes. O médico ressalta que nas crianças o cristalino é mais transparente e filtra só 25% da radiação. Além de óculos recomenda o uso de chapéu de aba larga e boné. Tanto nos óculos corretivos como nos de sol, destaca, as armações de baixa qualidade podem causar alergia na pele. Por isso, o baixo custo pode ser um verdadeiro presente de mico. Óculos corretivos são acessório personalizado Quem vai viajar e esquece os óculos em casa não deve comprar óculos na primeira farmácia. Queiroz Neto afirma que os óculos corretivos vendidos em farmácias e lojas de departamento só são adequados para portadores de presbiopia (vista cansada), caracterizada pela dificuldade de enxergar de perto que surge depois dos 40 anos de idade. Mesmo que a graduação coincida com a prescrição médica, o especialista afirma que é mais adequado mandar fazer os óculos para que o centro óptico das lentes seja calculado de acordo com a distância entre as pupilas e permita a perfeita visão. Quem tem vícios de refração - miopia, astigmatismo e diferença de grau entre os olhos - não deve usar óculos "de fábrica" ressalta, porque estes óculos tem a mesma graduação nas duas lentes e a prescrição médica considera outros fatores além da graduação que dificilmente serão encontrados em prateleiras. Ele alerta que as melhores lentes corretivas são as que oferecem 100% de proteção ultravioleta encontrada nas fotossensíveis que escurecem conforme a claridade e nas de policarbonato.
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