“Ouvi a correção, e sede sábios, não a rejeiteis” - (Provérbios, VIII: 33) Perto de nós está a data em que veio ao mundo o Verbo Divino que encarnado em uma humana forma, frágil e limitada forma tal qual a feição de todos nós, para a redenção de nossas faltas, que poucas não são e que, dia após dia, mesmo após a sua imolação no patíbulo cruzado da vergonha mundana, o Divinal Cordeiro, que transmutou o referido símbolo de vergonha em um farol de esperança para todas as almas que vagam por este mundo de veleidades, marcado pela pretensão e a fraqueza do pecado primeiro que aqui nos trouxe neste mundo de incertezas fecundados pela razão e tumultuados pelas volições da fé vacilante que temos. Perto se faz de nós a mensagem dita sem palavras, a mensagem que se fez em parábolas de carne e sangue que se vêem vivificadas pela presença da Divina palavra que é silenciada pelos cravos da insensatez de nossos passos peraltas, calada pelo açoite de nossa hipocrisia que com grande virulência faz sangrar a face daquele que apenas deseja comunicar a Boa Nova para uma sociedade carcomida pelas suas próprias fraquezas e vícios que tomam conta das almas desesperadas, perdidas em seu total desconhecimento e na integridade de sua pacóvia vileza. De nós faz-se perto, o dia eleito para ser porto seguro dos enfermos de espírito, dos carentes de justiça, dos sedentos de afeto, dos desvalidos pelo social esquecimento de suas existências que apenas são lembradas pela conveniência dos interesses escusos dos fracos que se escondem covardemente nas alcovas do poder por não serem dignos de cultivarem os talentos que, de maneira augusta, lhe foram ofertados pela generosidade Daquele que É. Faz-se perto, mas, e nós, que fazemos diante da inevitável chegada do vigésimo quinto dia do décimo segundo mês deste ano de dois mil e seis da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo? De tão perto que se faz, que, por fingido descuido, desdenhamos o peso de sua voz que ecoa longe no mundo, mas que, no recôncavo de nossa morada terrena, nós, hipocritamente, dissimuladamente, louvamos a nós mesmo em nossa pequenez como se estivéssemos a louvar o Filho Unigênito do Sapientíssimo Pai Celeste, diminuindo a grandeza do Cristo em uma pequena troca de presentes com realizam nossos diminutos sonhos de consumo. E nós nos distanciamos, mesmo estando perto, de tudo de Verdadeiro que a singela data referida representa, por sermos simplesmente o que somos e, por essa mesma razão rasa, nos mantemos acomodados, acovardados, frente a dança boreal de palavras que dão forma aos parágrafos turvamente escritos do Evangelho que se fez Testemunho da letra falada em tom de Liberdade na forma de um testamento que se fez e se faz anunciar, silencioso, na intimidade de nosso ser, como há de ser, a Divina Revelação. No desespero nos deixamos cair, mesmo tão próximo da simplicidade Daquele que têm infinitos nomes, mas que, sempre, com misteriosa doçura, faz-se falar em nós, como um cochicho infantil, inocente, a nos convidar, de modo sutil, a negarmos nossa baixeza existencial, a qual, tão apegados somos. Por isso, mais do que nunca, lembremos, que no vigésimo quinto raiar do astro rei é Natal, momento o qual devemos revigorar os nossos votos firmados frente ao altar da Santa Igreja, edificado neste mundo para simbolizar e memorar a passagem Daquele que tudo fez que há e que, por amor a nós, fez-se carne e sangue, para que assim possamos, em nossa imperfeição, vermos na Perfeição encarnada na decantada forma da fraqueza a grandeza de sermos semelhantes Àquele que É e, por amor, se fez como nós, para simplesmente crermos na Sua grandiosidade e assim sorrirmos e anunciarmos o Seu Sacrifício e a Sua perene presença para todos os ventos, glorificando-o na imitação de seus exemplos para assim celebrarmos tudo aquilo que não somos, mas que devemos galgar, para assim sermos dignos das Promessas do Cristo.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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