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Medicina e Saúde
23/12/2006 - 14h34
Comprar compulsivo
Ana Beatriz Barbosa Silva
 
Onde o ter se confunde com o ser

Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós?

Estas perguntas podem ser respondidas de maneiras diversas. Se quisermos nos focar no ato de consumir, poderíamos responder respectivamente: alguém que consome, outro alguém que também consome e, finalmente, nós somos os indivíduos que consomem em uma sociedade essencialmente consumista. Se nos fosse possível fazer tudo a que nos propomos todos os dias (trabalho, alimentação saudável, atividade física, curso de aperfeiçoamento, lazer, cuidados com filhos e com a casa, atenção aos amigos, namorar porque ninguém é de ferro e finalmente dormir), nosso dia precisaria ter, no mínimo, trinta e seis horas. Como "esticar" o dia está além de nossa condição, só nos resta fazer tudo, ou quase tudo, correndo, sem usufruir nada direito. Acabamos assim consumindo nosso lazer, nosso repouso, nossa saúde, nossos prazeres reais e também nossos afetos. Para entendermos o transtorno do comprar compulsivo é fundamental que tenhamos em mente uma visão reflexiva e crítica sobre nossas verdadeiras necessidades de consumo e os fatores que as influenciam.

Na sociedade capitalista vários são os motivos que movem uma pessoa a comprar: necessidade real, carência afetiva, manutenção do status, adquirir poder ou projeção imediata, modismo, apelo do marketing, influência de determinado grupo de convívio, ilusão de segurança etc. Sabendo disso, o mercado sempre oferece algo novo para ser consumido com a promessa de ser mais bonito, mais prático, mais eficaz, mais tudo, enfim. Isso com o objetivo claro de desencadear em todos nós a compra por impulso, aquele algo a mais que compramos, em geral, atraídos pelo apelo publicitário instantâneo.

No transtorno do comprar compulsivo a situação é ainda mais complicada. A pessoa compra em quantidades exageradas, gastando em geral muito mais dinheiro do que pode, contraindo dívidas, passando cheques sem fundo (em geral pré-datados), gerando dessa forma prejuízos materiais e afetivos para si e para os familiares mais próximos.

A compra no transtorno do comprar compulsivo é antecedida de um desejo incontrolável e, no ato da compra em si, a pessoa vivencia um grande sentimento de alívio tensional de prazer propriamente dito, ou, ainda, uma incrível sensação de poder e felicidade. A essa "onda boa" seguem-se em geral a culpa e o remorso por mais um fracasso frente à compulsão de comprar. Habitualmente o compulsivo de compras tenta manter seu descontrole em segredo, o que dá ao transtorno um "aspecto secreto".

A compulsão de compras é mais freqüente entre as mulheres e seu início tende a ocorrer na juventude, por volta de 18 anos, idade em que os pais costumam presentear a maioridade dos filhos com a liberação de talões de cheques ou cartões de crédito, muitas vezes de forma inadvertida. Maquiagem, jóias, roupas, bolsas, sapatos e perfumes são os objetos mais comprados.

Não podemos negar a forte influência que nossa cultura consumista exerce sobre esse transtorno, no entanto, também, é inegável o componente afetivo representado pelo vazio interno que os compradores compulsivos vivenciam nas profundezas de seu ser. Comprar coisa materiais para preencher esse vazio é tão inútil quanto "secar gelo". É preciso despertar nossa essência, nossos verdadeiros talentos e nossas reais potencialidades, deixando o ser real tomar posse desse território (vazio) onde o TER jamais consegue morada.

Dicas para lidar com a compulsão de compras:

· Saia de casa com apenas o dinheiro mínimo necessário.

· Não saia com talão de cheque. Carregue na bolsa apenas uma ou duas folhas do talão.

· Não leve o cartão de crédito ou de débito.

· Se possível, nem tenha cartão de crédito.

· Faça mentalmente o caminho que irá percorrer até o local que você deseja. Isto é essencial para que não se desvie ou passe por lojas conhecidas e por vitrines (tentadoras).

· Se estiver se sentindo muito entusiasmado ou contente, evite olhar anúncios ou passar por lojas.

· O mesmo vale para quando estiver se sentindo muito triste ou frustrado.

· Se tiver algum excedente em dinheiro, invista em aplicações que penalizem com alguma perda caso retire o dinheiro antes do tempo contratado.


Nota do Editor: Ana Beatriz Barbosa Silva é médica psiquiatra e escritora, diretora da clínica Medicina do Comportamento no Rio de Janeiro e em São Paulo.

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