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Crônicas
23/12/2006 - 18h37
O dia em que adquiri vermes
Vanessa C. Vaz
 

Bem no centro de Brasília, entre o Conjunto Nacional e o Conic, centenas de pessoas caminham com pressa, desviando umas das outras e das barracas que invadiram as calçadas.

Como tinha que fazer uma matéria pra rádio, deixei meu gravador ligado dentro da bolsa semi-fechada, a fim de captar o som ambiente.

“Só um real, só um real! CD só um real!”

“Relógio à prova d’água! À prova d’água!”

“Blusa três real, só três real!”.

“Essa aqui é uma verdadeira solitária com cabeça e tudo!”

Parei para ver o verme. Um senhor com cara de índio balançava um vidrinho de maionese com uma cobrinha fininha dentro, o qual dizia ele ter três metros. Meus olhos passearam pelos diversos vidrinhos cheios de vermes até parar num bem grande.

“Espera aí, este aqui é cobra”, disse.

“Só essa. O resto, tudo é verme. Olha esse aqui, é um dos mais bonitinhos.”

E assim, o homem começou a nos apresentar um a um dos vermes, os quais não tive prazer em conhecer.

“Esse aqui é o da carne do boi... Esse é da carne do porco, pode até matar. Se não matar, se aloja no celebro. A pessoa estuda e não decora, sonha e não lembra, marca encontro e não vai. Não é que a pessoa é tratante, tá com verme... Esse outro aqui quem tem não consegue emagrecer... Esse aqui é o verme da Ameba. Quem tem, sente azia depois de almoçar... Esse outro chupa o sangue da gente. A pessoa sente falta de ânimo, cansaço. Às vezes até é trabalhadeira, mas fica preguiçosa...”

De repente, uma água cai no meu pé direito. Olho para minha sandália e vejo umas coisinhas brancas em cima dela. Pergunto para o índio se ele jogou algo em mim. Ele se nega e continua falando para as pessoas em volta.

Com convicção, afirma que se alguém tem algum daqueles sintomas, é porque tem verme.

“Tirar isso não é fácil. É só tomar essas ervas aqui duas vezes por dia que você vai pôr tudo pra fora.”

Mostrou um saquinho com uns matos dentro dizendo que aquilo curava todo tipo de verme.

“Esse mesmo produto, vindo da Amazônia com flerte custa 18 reais, mas eu faço só por cinco o saquinho”.

Um homem pediu três pra levar.

Em seguida, perguntei para o índio se podia me dá uma entrevista, mas ele se negou. Disse olhando pra minha bolsa que não confiava em jornalistas.

Uma pequena abertura dela deixava a amostra o gravador ligado. Ele sabia que eu tinha capturado sua voz. Na hora, lembrei que para alguns índios, tirar foto, aprisionar a imagem, é como lhe furtar parte do espírito. Foi aí que entendi o por quê dele ter jogado vermes em mim. Deve ter achado que eu queria lhe roubar a alma, por isso tentou me roubar a saúde.


Nota do Editor: Vanessa C. Vaz é jornalista.

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