Num dia desses encontrei um amigo que como eu, tem preocupações com a degradação do meio-ambiente e as implicações decorrentes para a vida. Enquanto conversávamos um fato foi lembrado, a população está aumentando e as pessoas durando mais. No começo do século vinte, há exatos cem anos, a expectativa de vida no Brasil era de apenas 34 anos. Hoje é de 66, dobrou. Melhores condições de higiene, vacinas, antibióticos e comida, tudo isso contribuiu para que as estatísticas mudassem tanto. Uma primeira análise, sem maior profundidade, poderia indicar que tudo vai bem, quando na verdade, tudo vai mal. Vive-se mais, isso é um fato, porém as condições de vida estão piores em termos de qualidade. Pode-se dizer que as pessoas estão durando mais, para saborear por mais tempo, o gosto amargo da exclusão. Trabalha-se muito - quando há trabalho - para pagar a sobrevivência, com a perspectiva de na velhice faltar quase tudo. Alguma coisa foi mal planejada, isso fica evidente quando as aposentadorias são postas em questão. Elas são ridiculamente pequenas em relação aos ganhos dos que estão em atividade, salvo para os previdentes que trataram de abrigar-se à sombra do estado. Esses terão a vida garantida até o último dia. Para os outros a coisa é mais complicada, para não dizer perversa. Viver muito e mal, para quê? O país terá atingido o desenvolvimento quando a maioria tiver condições de transitar pela vida com dignidade. Vai demorar pelo menos trezentos anos. Para ser otimista! Ou talvez nunca aconteça.
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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