Desde pequeno somos acostumados, empurrados, obrigados a viver de uma maneira bruta. Como filhotes de tartaruga recém-nascidos, temos que fugir para o mar, nos esconder dos predadores e procurar alimento. Logo aos 3 anos, mamãe nos prepara para a guerra; entramos na escola. Forçados, resistimos. Queremos colo e aconchego materno, mas ela insiste na distância, com o pensamento que só depois vamos entender: "tem que estudar meu filho, para ser alguém na vida". Hoje em dia, após seguir o tal conselho, vemos que ela tinha razão. Até que provem o contrário, esse é o caminho mais natural a ser seguido. E o pior que já conseguiram provar o contrário. E foi há quatro anos atrás, quando um analfabeto, que só sabia gritar em cima de palanques se tornou presidente da República. E aí, o que fazer diante disso? Você se mata, corre atrás das suas coisas, enquanto outros pegam caminhos muito mais fáceis e saem na sua frente. Mas por quê as coisas são assim? Quem escolheu isso? Será que vale a pena o esforço? Estágio, trabalhos de faculdade, cursos etc. Todo mundo tem muitas obrigações em busca de um ideal. Por causa disso, às vezes, quando estamos fatigados, dá vontade de jogar tudo pro alto, dar um berro e sumir. Mas sumir para onde? Ir morar aonde? Vou me sustentar como? Que atire a primeira pedra quem nunca teve essa piração. Como diz uma frase de um filme que vi: "Tudo é difícil na vida de um adulto". E quanto mais dificuldades, mais a tal Lei de Murphy insiste em aparecer. É totalmente proporcional. Pressa, correria, stress. Itens mais que obrigatórios em nossas vidas. Sinto isso ao redor de todas as pessoas que convivem ao meu redor. Mais que transpiração, pressão nas 24 horas do dia que, segundo alguns, deveria ser mais extenso, tão enorme é o número de tarefas. Sinto saudade de casa. A impressão que tenho é que fico o dia todo na rua, passo em casa rapidinho para tomar um banho, comer algo e descansar, para voltar dentro de dez minutos. É um ciclo que não acaba nunca. Férias é como fuga. Resolve o problema por um tempo. Mas depois tudo volta. Por que trabalhamos tanto e ganhamos tão pouco? Poderíamos trabalhar menos tempo e ganhar o triplo. Por que trabalhamos cinco dias e descansamos dois? Não poderia ser quatro e três de descanso? Passaríamos mais tempo com a família. Como perdemos em qualidade de vida por causa de um tal de dinheiro. Infelizmente, temos que vestir a carapuça do capitalismo. Enquanto houver degraus, estaremos subindo. Na escada da vida, se sobe, se desce, se permanece parado. Um emprego, um lar, uma família. Todos querem atingir a perfeição, modelados pelos filmes americanos no estilo "família feliz". Mas será que isso é mesmo o paraíso? Tem gente que quer se casar, e uns que reclamam porque se sentem presos. Há quem quer ter filhos, enquanto outros não suportam crianças. O que seria do vermelho se todos gostassem do azul? Ou sei lá, do amarelo? Não sei, não sou Deus. Queria ter a resposta para tudo. Ah, como isso iria me ajudar. Inveja de Jim Carey, em "O Todo Poderoso". Ah se o Morgan Freeman cruzasse na minha frente... Resolvi escrever isso num momento de piração. Estava sem internet no trabalho (como dependemos dela), coisas tinham que ser resolvidas e, quando eu menos esperava, o tal do "tinha que acontecer justo agora?" mais uma vez se fez presente. Joguei tudo pro alto por um instante, para desabafar com as palavras, e descontar um pouco da ira aqui. Assim que abri o Word, a primeira frase que escrevi foi "Quero sumir". E tão breve tive que acabar esse texto (não tenho mais tempo, pois algo me chama aqui no trabalho), que agora já me sinto aliviado, pois contei isso para vocês. Parecia estar entalado com um caroço de ervilha. Mas não, vi só que era estafa mental, causado por este modelo de vida. Ainda bem que passou, e tudo voltou ao normal. E como diz um amigo meu: "A luta continua"... E ela vai. Nota do Editor: Renan Oliveira é jornalista carioca, formado pela Facha. Atualmente cursa Radialismo e trabalha na Assessoria de Imprensa da Biblioteca Nacional. Já trabalhou nas assessorias da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) e também no Instituto Benjamin Constant. É criador e editor do blog Até o Ponto Final, onde publica semanalmente suas crônicas e poesias.
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