Uma obra gigantesca, diferente. Desde criança, a dimensão das cidades sempre me chamou a atenção. Os prédios, os elementos naturais, o “cinturão verde” que se forma na região norte e sul da capital é algo que sempre olho quando passo pelo caminho ao centro da capital. Durante a visita na Bienal a cidade Branca me impressionou. Os guarda-chuvas nem olhei, fui direto ver a maquete. A primeira impressão que tive ao ver a maquete da cidade, imaginei a Avenida Paulista. Mas, ao observar cada detalhe da obra, percebi a inserção de elementos de outras cidades, como a catedral de Brasília, mesquitas, arranha-céus americanos e veio a idéia de junção. Um outro detalhe foi imaginar que a obra era uma simples maquete feita pelos arquitetos e feita de isopor. Fiquei com aquela impressão até o momento que sai do pavilhão. Durante a viagem de volta para casa, fiquei imaginando aquela “cidade de isopor” lá no meio da mostra da bienal. Mas os detalhes da obra ficaram em minha cabeça, quando comecei a lembrar da catedral de Brasília, dos arranha-céus, das mesquitas, das antenas do corredor financeiro da paulicéia. As imagens causaram-me uma grande inquietação. Lembrei do tema: “Como viver junto”. Sim, pensei numa cidade que houvesse união de culturas, agregação de pessoas, uma mistura de línguas. Um lugar onde quando passasse pela rua poderia ouvir o padeiro atender um cliente em espanhol, o balconista atender o outro em inglês, edificações diferentes que causassem impacto durante o passeio de turistas. Havia casas pequenas na mostra. Elas ficavam escondidas em torno das belas edificações. Um detalhe que só pude observar depois de muito tempo que apreciei a obra e, após fotografá-la, pude reparar nessas pequenas construções desordenadas, desorganizadas. Pois retratam bem o crescimento desordenado das cidades brasileiras. Sweetness (doçura), é o nome da obra. Meschac Gaba, nascido no Benin e radicado na Holanda, foi o criador dessa maquete. O artista durante a sua residência na capital pernambucana, imaginou uma Recife globalizada, misturando a arquitetura local a obras como Empire State, o Vaticano, a Torre Eiffel, o Arco do Triunfo. Uma tentativa de resgatar uma estética doce e serena e, ao mesmo tempo, refletir sobre a natureza global da arquitetura. O artista usou açúcar, produto de exportação do Brasil, cuja história é conturbada, durante a construção da instalação. Ele ficou impressionado com os desequilíbrios sociais existentes na cidade. “O Recife é uma caricatura do mundo, a imagem da globalização. Você vê prédios gigantescos cercados pela pobreza mais terrível”, afirma. “Quando deitava para dormir, pensava que havia algo que não estavam me mostrando”. A cidade doce. Com prédios altos que lembram Nova York, mesquitas, catedrais e recursos naturais. Um espaço urbano composto de culturas, estética e diferenças sociais. Nota do Editor: Luís Delcides Rodrigues da Silva é estudante de jornalismo, micro-empresário e colaborador do site Revista Melhoramundo.
|