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Crônicas
06/01/2007 - 10h56
Por que não uso Orkut
Rosana Hermann
 

No Brasil, você sabe, não se pode ter uma opinião contrária à da maioria. No nosso país, ’maioria esmagadora’ é uma expressão no sentido lato. Se você quiser tornar pública a sua opinião como minoria, a maioria vem e esmaga.

Na Internet, uma das mais famosas maiorias brasileiras encontra-se no Orkut, site americano de ocupação 70% brasuca. Esses internautas nacionais que se orgulham de dominar um território gringo não permitem que ninguém ouse não usá-lo, quanto mais discuti-lo ou criticá-lo. Orkut no Brasil é uma religião. E com religião não se brinca. No Brasil não ter Orkut é quase como ser ateu. Inaceitável.

O Orkut em si é uma invenção simpática, um site de relacionamentos para que pessoas que se conheceram um dia na vida possam se reencontrar e para que pessoas em busca de novos relacionamentos possam encontrar indivíduos com elos em comum. Crianças que estudaram na mesma escola, ex-colegas de trabalho, parentes perdidos pelo mundo, fãs de um mesmo artista, torcedores de um mesmo time, colecionadores dos mesmos itens e assim por diante. Esta é a idéia original e a forma através da qual a maioria esmagadora dos países do mundo ocupa o site. Mas no Brasil, não.

No nosso país da confusão de mídias, ansioso e superficial, assanhado e faminto de holofotes, usa-se o Orkut não de forma comunitária, mas panfletária. Qualquer sentimento, qualquer indignação, qualquer necessidade de expressão não vira blog, e-mail, manifesto ou libelo: vira mais uma comunidade no Orkut. No item pesquisa também há outra particularidade: as pessoas não pesquisam por outras, mas bisbilhotam nas páginas de quem já conhecem, especialmente, de seus desafetos. É incrível como o brasileiro tem mais atração por seus desafetos do que por seus amigos. Brasileiro é apaixonado pelo adversário mais do que pelo correligionário.

Por outro lado, esta infinidade de comunidades inúteis resulta num compêndio genial de criatividade e bom-humor. Já dei boas gargalhadas e cheguei a fazer um pequeno vídeo de um minuto só com essas comunidades, o que me valeu um prêmio no Festival do Minuto deste ano (Está no YouTube e chama-se "O nome já diz", entre aspas). Devo isso aos brasileiros bem-humorados do Orkut.

Mas a peculiaridade mais estranha é a dimensão mórbida do brasileiro que, confesso, eu desconhecia até então. Toda vez que um morto ocupa a mídia, os usuários vão atrás de sua comunidade no Orkut para deixar recados pós-morte. Foi assim com um garoto assassinado por um colega na rádio USP, foi assim com garotas que morreram por anorexia, é assim com qualquer vítima fatal cujo nome tenha sido divulgado pela mídia. A partir daquele momento, o falecido ou falecida que já não tem mais acesso à sua página, passa a receber milhares de scraps de brasileiros que estão no Orkut.

É claro que não faz sentido deixar um recado para alguém que já não vive mais, mas a intenção tem lógica: é para ser visto por todos os outros. É para estar onde todos estão. E aí, sim, o elo se fecha. Faz sentido freqüentar um lugar cheio. Ninguém gosta de restaurante vazio, point micado, balada parada. Lugar bom é onde todo mundo vai. Pensando bem, se o Orkut é tão bombado de gente, deve ser lá o melhor lugar para estar. Quem sabe em 2007.


Nota do Editor: Rosana Hermann é Mestre em Física Nuclear pela USP de formação, escriba de profissão, humorista por vocação, blogueira por opção e, mediante pagamento, apresentadora de televisão.

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