Quando pensamos no a ser desempenhado pelo papel do dito cujo cidadão, inúmeras representações nos vêm a mente que na maioria das vezes, não passam de meras construções de caráter formalístico que, em si, tem a sua valia, mas que, de fato, faz-se inválida pela razão de não encontrarmos em parte alguma um sujeito que seja a concreção destas ficções. Os indivíduos que integram a sociedade civil, de um modo geral, se vêem contaminados por uma profunda apatia em um misto de indignação tosca. Manifestam-se indignados frente a determinados acontecimentos, porém, se recusam a conhecer e compreender as suas causas reais de sua indignação, portando-se assim, de maneira indolente, em uma atitude existencial de profundo desdém pela realidade. Tal atitude não seria de modo algum algo fruto de uma relativa "inocência". Não mesmo. Essa é sim, fruto do comprometimento destes para com a (des)ordem vigente que se faz imperar nas macro-esferas do poder como mas micro-esferas de mando que imperam nestas terras de Pindorama em seus quatro cantos. Tal compromisso se deve a uma certa benesse que o elemento receba pelo estado em que se encontra a sociedade, na esfera macro ou micro, ou por simplesmente avaliar que para si e para os seus, o caos geral é bom, pouco se importando com as conseqüências futuras e muito menos para os efeito que irão afligir aqueles que estão sendo prejudicados pela sua benesse obtida por vias turvas. Trocando por dorso (miúdos): para essa gente de alma pequena, o que importa é que eles e os seus pares estejam bem na fita e na mais. Podemos afirmar que a lei que melhor explica o que é o cidadão nestas plagas brasileiras seria propriamente a lei de Gerson. O restante seria apenas explicações mais detidas. Por isso, toda vez que uma voz se levanta contra o estado putrefaz das coisas logo é vista com suspeitas, justamente por todos estarem com seu rabo preso (direta ou indiretamente) em meio a este cipoal de patifaria chamado Brasil onde a maioria das pessoas dissimulam decência para acobertar as suas faltas, fazendo-se de vítimas para assim melhor poder acobertar as suas culpas projetando-as em terceiros para assim aliviar o que restou de suas consciências para não virem a se tornar suspeitos de serem o que realmente são e assim tomarem consciência da farsa existencial que eles se tornaram.
Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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