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Opinião
08/01/2007 - 08h01
A onipotência da impotência
Dartagnan da Silva Zanela
 

É curioso como o mundo é cheio de pessoas altruístas, bondosas até a medula, de um modo tal, que chega até dar medo. Essa bondade excessiva, auto-proclamada me causa uma grande apreensão, não por ser uma pessoa inteiramente má, carcomida por um egoísmo irrefreável e assumido, mas sim, pelo simples fato de ser o que sou: um ser humano como qualquer outro e, por isso, desconfio, sem dó e muito menos piedade, de qualquer alma que se apresente a humanidade (ou a uma fatia desta) como sendo um indivíduo que se dedica em sua inteireza ao interesse público e a correção das desigualdades sociais.

Nos inúmeros anônimos que trabalham em vários cantos do mundo para levar um certo alento aos desesperados, eu confio, pois fazem isso entregues a privacidade da dor do seu próximo desejando apenas o consolo de suas chagas ao mesmo tempo em que procuram aliviar as chagas de suas próprias almas que inflamam com a dor e o sofrimento que aflige o seu próximo.

Todavia, essa caterva que posa de bom moço, de santo do pau oco e que diz estar a representar o interesse dos esquecidos da sociedade, que declara publicamente estar trabalhando em prol do bem-estar coletivo, de mim, merece apenas a minha total desconfiança e nada mais que isso.

Os anônimos, como você, que fazem sua contribuição estendem a sua mão sem desejar que o seu gesto seja ovacionado publicamente ou retribuído com votos de confiança. O faz, por puro e simples desejo de alentar um pouco as dores deste mundo com uma parcela de seus ganhos e de seu tempo produtivo (ou de ócio) para, deste modo, aliviar a angústia que muitas vezes toma conta de nosso íntimo.

Outra coisa, totalmente diferente, é essa caridade farisaica que se apropria dos ganhos alheios para pretensamente ajudar os que se encontram em situação de emergência, quando não, como ocorre na maioria dos casos, em sua pretensão de auxiliar os desvalidos, acaba por prejudicá-los ainda mais. Não é assim que as potestades estatais agem?

Pensar as manipulações do que se entende por "bom" é algo deveras medonho, visto a complexidade que as distorções acabam tomando em nosso dia a dia. Neste ínterim, faz-se salutar as palavras redigidas do tinteiro de Friedrich Nietzsche que, em sua obra GENEALOGIA DA MORAL, nos diz sobre a origem do valor do bem, mencionando os ensinamentos de Herbert Spencer, que este seria tão só insustentável em termos de profundidade histórica e, em si, o "bem" sofreria de um contra-senso psicológico.

Afirma o poeta filósofo que o "bom" seria: [...] essencialmente igual a "útil", "conveniente", de modo que nos conceitos "bom" e "ruim" a humanidade teria sumariado e sancionado justamente as suas experiências inesquecidas e inesquecíveis acerca do útil-conveniente e do nocivo-inconveniente".

Não desejamos de modo algum invalidar a generosidade humana, mas nos questionarmos sobre nossa pretensa benevolência que muitas das vezes gostamos de ostentar como se esta fosse um medalhão aquilatado. Ora, somos bons por convicção ou por conveniência? Se por convicção, por qual? Se não, quais conveniências nos movem a dita generosidade? Difícil não pensar nestas questões sem não nos questionarmos sobre nossa velada pretensão de santidade, que se faz postiça, justamente por não ser inteira e intensa, como deveria ser, mas não o é devido a nossa impotência voluntária frente a maldade onipotente que nós geramos em nossas simulações de bondade.


Nota do Editor: Dartagnan da Silva Zanela é professor e ensaísta. Autor dos livros: Sofia Perennis, O Ponto Arquimédico, A Boa Luta, In Foro Conscientiae e Nas Mãos de Cronos - ensaios sociológicos; mantém o site Falsum committit, qui verum tacet.
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