O que é normal? O que não é normal?
Estas perguntas são bastante recorrentes no meu consultório. O paciente que chega ao consultório de um psiquiatra, já chega muitas vezes preocupado pensando: "Será que ele vai achar que eu não sou normal?". Nos primeiros minutos de consulta é comum observarmos esse paciente tentando fingir ser o que não é. Camufla opiniões, suaviza, evita se expor demais antes de ter certeza de estar pisando em terra firme. O conceito do que é ou não normal é mais filosófico que médico. Estou certo disso. Entro nesse campo quando questiono: é normal se acostumar com a violência dos grandes centros, sem se sentir em todo o tempo nervoso e apreensivo? É normal não sentir-se mal ao passar pelas ruas e ver tantos mendigos, indigentes, "crianças malabaristas" a cada sinal, sem se sentir-se realmente incomodado? Existem vários transtornos de comportamento que estão em evidência na mídia, os quais alguns chegam a dizer que estão "virando moda". Curiosamente, estes transtornos só têm crescido nas estatísticas porque muitas pessoas são "normais demais" e não suportam viver numa sociedade desigual, injusta, instável. Refiro-me ao Transtorno de Stress Pós-Traumático, à Síndrome do Pânico, às fobias, e a tantas outras formas de manifestar algum distúrbio de ansiedade. Dessa forma, o normal pode virar patológico e o patológico virar normal. Parece que ser insensível é a melhor forma de mostrar-se seguro, equilibrado... Cabe uma reflexão mais profunda a respeito do que realmente é doença e o que é apenas transtorno. Voltando à indagação filosófica do que é ou não normal, poderíamos simplificar a resposta de diversas maneiras. Uma que me agrada muito é dizer que tudo o que não causa prejuízo a si próprio e nem a outros pode ser normal. Daí, fica fácil entender o que deve e precisa ser tratado e o que não. Existem pessoas ansiosas extremamente produtivas e que negam ter prejuízo com sua ansiedade. Outros, têm prejuízo e por isso devem ser tratados. Crianças hiperativas que não tenham prejuízo escolar e que se adequem bem a algum modelo pedagógico, psicoterapêutico, multidisciplinar, nem sempre necessitarão de remédios. Porque continuar a julgar anormal a homossexualidade, se estes não causam nenhum prejuízo nem a si mesmos nem a ninguém? O sociopata se sente muito bem dentro do seu egoísmo, mas causa sérios prejuízos aos que o cercam. Deve ser tratado. O anoréxico, não faz mal a ninguém, mas se destrói pela distorção que faz da sua própria auto-imagem. Deve ser tratado. É normal ser imperfeito. Basta olharmos a nossa volta. E não há mal nenhum em se procurar ajuda profissional quando lidar com essa imperfeição se mostra difícil. É normal. Nota do Editor: Walker R da Cunha é médico psiquiatra, psicoterapeuta, conferencista e autor de diversos artigos na área de comportamento e saúde de grande repercussão.
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