Há alguns anos me entristecia o fato do carteiro passar na rua e não me trazer nenhuma carta. Na época, quando gastávamos os dedos escrevendo páginas e páginas para passar notícias, e comprávamos selos e envelopes, me correspondia com primos dos quatro cantos do País, e com aquele que um dia se tornou meu marido. Dessa forma, a visita do carteiro sempre era esperada com muita ansiedade. Durante alguns anos, tamanha era a freqüência das cartas que ele deixou de ser apenas o “carteiro”, eu sabia o nome dele, e ele sabia o meu. Éramos "quase" amigos, muitas vezes lhe oferecia suco ou café em troca das boas notícias que trazia. Quando ele chegava na porta de minha casa não mais gritava o tradicional "correio!". Me chamava e dividia comigo a alegria de receber aqueles envelopes brancos, coloridos, com selos diferentes que passei a colecionar. Guardo até hoje cada uma dessas cartas numa grande caixa de papelão. Freqüentemente, me pego relendo pedaços de minha vida, confidências, promessas e juras de amor. Grandes análises de nossas vidas de adolescentes também faziam parte dos conteúdos. Éramos críticos aos costumes e regras de comportamento da época e otimistas em relação ao futuro. Tudo muito normal para nossa idade. Hoje, vejo meus filhos repetindo essa troca de informações via internet, eu mesma me comunico com parentes e amigos da mesma forma, mas como é triste não ter o mensageiro, aquela pessoa que sabia que pelo menos em alguns dias da semana, teria de me consolar dizendo: “hoje não tem nada, mas não se preocupe, amanhã virão muitas cartas”. Pelo computador não tem jeito. A gente abre a caixa de mensagem e algumas vezes não tem uma linha escrita, e graças aos filtros, sequer um spam. E aí, a gente fica pensando até que ponto, algo que une tão rapidamente pessoas de diferentes pontos do mundo, nos faz sentir tão sozinhos... Nota do Editor: Aliene Coutinho é jornalista, professora de Telejornalismo do Instituto de Ensino Superior de Brasília – IESB.
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