Eu tive medo de micóbrios. Isso mesmo, micóbrios, quando descobri que eram micróbios o medo se foi. Também me assustaram mulas-sem-cabeça, lobisomens, e assombrações em geral. Do saci eu não posso dizer que foi medo, mais curiosidade. Por diversas vezes tentei capturar um, usando peneiras em dias de ventos circulantes. Já das bruxas eu tive inveja. Desde a mais tenra infância senti vontade de voar, os seres alados me fascinavam, bruxas entre eles. Na verdade a inveja era das vassouras mágicas. Passei a infância construindo artefatos voadores, alguns imaginários, outros que realmente voavam, embora os pássaros fossem o objeto do desejo da minha alma. Eu queria ser um urubu, ainda quero, para mim são as criaturas mais bem adaptadas do planeta. Salvo o cardápio, um tanto exótico. Passar a vida de térmica em térmica é o sonho, quem sabe passarei a velhice dentro de um planador, imitando urubus e sendo por eles imitado. Tantas coisas eu quis, algumas consegui, outras foram impossíveis. Fernanda! Eu tinha sete anos, ela dezoito. Paixão fulminante!
Nota do Editor: Sidney Borges é jornalista e trabalhou na Rede Globo, Rede Record, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo (Suplemento Marinha Mercante) Revista Voar, Revista Ícaro etc. Atualmente colabora com: O Guaruçá, Correio do Litoral, Observatório da Imprensa e Caros Amigos (sites); Lojas Murray, Sidney Borges e Ubatuba Víbora (blogs).
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