Ontem à noite, minha cunhada veio buscar as crianças. Eram duas. Uma de quatro anos e o outro de um ano e tanto. Ficamos quatro dias com eles. Minha filha já está com vinte e um anos, acho que perdi um pouco o traquejo com as crianças. Eu ficava bravo, dava uns tapinhas na bunda do menor, mas mesmo assim ele ficava andando atrás de mim, chorando e pedindo colo. Só um bobo mesmo para pedir colo para quem acabou de lhe causar o choro com um tapa na bunda, mas eu pegava ele, fazer o quê? E ele deitava no meu ombro e dormia e quando eu ia colocar na cama acordava de novo e começava a empurrar todos os travesseiros e o edredon para o chão. Fomos no parque e eles queriam tudo e eu ficava resmungando, algodão doce? Tá bom... e ele deixava todo o algodão doce no palito porque agora ele queria um pastel. Pastel? Tá bom, só que ele ficava brincando com o queijo e o queijo derretido escorria para o chão e ele queria pegar pra comer e eu falava que não podia e ele ficava pegando assim mesmo e olhando pra mim, as crianças parecem que ficam testando a gente. Mas ele não queria mais o pastel porque agora ele queria o sorvete e eu não vou comprar mais nada pra eles ficarem jogando fora, choradeira, bate perna, não vou comprar e pronto, choradeira e logo depois eles já estavam me puxando pela mão para eu ver o passarinho verde em cima da árvore e depois a gente chegava em casa e eles queriam assistir o DVD do Garfield, de novo não, pelo amor de deus, a gente já assistiu o DVD do Garfield umas quinhentas vezes, qué gatinho, tio, tá bom, põe logo essa porcaria aí que eu tenho que escrever a minha crônica mesmo, que que cê tá fazendo, tio? Trabalhando, deixa o tio trabalhar, deixa, vai assistir o Garfield, vai... Qué trabalhá com o tio, tá bom, senta aí então, qué pita, quer o quê? PITA, tio! Ô bem, o que que é essa tal de pita que esse moleque quer? Chupeta! Chupeta? E onde é que está a chupeta desse moleque? e a família toda sai procurando a chupeta e ela está bem ali, em cima do estojo de lápis de cor, ao lado de um pedaço de pizza, e ontem à noite eles foram embora e hoje de manhã a casa está num silêncio quase fantasmagórico e deu para dormir até mais tarde, mas o dia demorou a passar como naquelas tardes calorentas e chuvosas de antigamente.
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