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Opinião
27/01/2007 - 04h42
A gestão da dissimulação
Carlos Stempniewski
 

Guardamos em nossas mentes aquela figura frágil, insolente, desconfiada e atordoada com o que acontecia a sua volta, envolvendo-se em situações inusitadas, contra a sua vontade. Trata-se do personagem Carlitos, imortalizado nos filmes de Charles Chaplin, notadamente "Tempos Modernos". Nos enredos cinematográficos, mantinha-se pela sua capacidade de dissimular, de fazer crer que estava no domínio da situação. Com quase um século de antecedência, previu como seria a sobrevivência na política do Brasil contemporâneo, onde as versões são mais importantes que os fatos.

Ao longo da história, governos se sucederam, estatais foram criadas, privatizadas ou deixaram de existir. O aparato social, político e econômico foi-se sofisticando para atender ao crescimento populacional e às aspirações dos brasileiros. Enquanto a iniciativa privada buscava nos pensadores da administração os caminhos e alternativas para a solução de seus problemas, na esfera governamental entregávamos esta responsabilidade aos políticos, gestores temporários de imensa e sofisticada máquina pública, os quais personificam visões sectárias regionais e com pouca, ou nenhuma, formação ou pendor administrativo. O ato de gerir com eficácia é exceção e não regra em nossa cultura administrativa pública.

Os atuais governantes enfrentam a saturação do quadro de crises que aconteceram até aqui. Acrescente-se sua capacidade de introduzir novos componentes de instabilidade, como ausência de crescimento da economia, agravamento das questões fundiárias, falta de um programa nacional de segurança, reformas do Judiciário e tributária, corrupção endêmica, política exterior com viés ideológico e não mais pragmático, redução sistemática da classe média, continuidade na elevação da carga de impostos, excessiva partidarização da gestão estatal e dívida pública na casa de um trilhão de reais.

Tendo perdido de vista o que fazer para solucionar os problemas, vivemos momentos de dissimulação explícita, com o governo querendo nos fazer acreditar que tudo vai bem e a solução está próxima. No caso do apagão aéreo, os culpados foram os controladores de vôo, depois a falha dos equipamentos, depois as companhias aéreas e logo serão os brasileiros, que estão querendo voar demais...

A geração atual de nossos pensadores econômicos só sabe raciocinar dentro de modelos matemáticos. Acostumados a analisar mercados, países, diferentes tipos de economia e negócios, por meio de uma estética dos números, essas pessoas entendem que o único caminho está dentro dos gráficos de tendências que eles gastam buscando entender e vibram a qualquer percentual mínimo de melhora estatística.

Uma sociedade não progride a partir de pessoas ou grupos de formadores de opinião absolutamente sem imaginação. A saída da grande depressão americana, a reconstrução do Japão e Europa, a união das Alemanhas e a inserção da China na economia mundial são resultados vivos do trabalho de um grupo de gestores com visão empreendedora. No Brasil de hoje, perdemos a capacidade de nos projetar para o futuro e só nos resta ficar olhando pelo retrovisor para as estatísticas e tentar encontrar explicações. O cerne da questão talvez se deva ao fato de que o problema deixou de ser puramente econômico e entrou na área de gerenciamento.

Os números espelham o final de um trabalho bem ou mal sucedido. Resultado da experiência, capacidade de imaginação, criatividade, garra, espírito de luta para superar obstáculos, desafios dentro e fora de casa: a um governo que não tem colaboradores com esses atributos básicos só resta dissimular, tentando que as pessoas acreditem que fez o possível para solução dos problemas, que está inserido no contexto situacional ou que a responsabilidade não é sua.

Enquanto isso, ficamos como Carlitos, frágeis, surpreendidos por situações inusitadas a cada momento, contra a nossa vontade. É incrível como Charles Chaplin, há tanto tempo, contextualizou essa premonição sobre nosso estado de espírito atual.


Nota do Editor: Carlos Stempniewski é mestre em administração pela FGV/SP, Especialista em Gestão Empresarial, Consultor e Coordenador dos cursos de Administração e Turismo das Faculdades Integradas Rio Branco.

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