Vivo resistindo à tentação de escrever para algum jornal de Ilhabela. Talvez porque seria uma declaração de amor à beleza, uma homenagem aos construtores, caseiros e jardineiros de plantão que fazem da Ilha um dos lugares mais bonitos do Brasil. Mas para minha surpresa estou aqui escrevendo sobre algo que a maioria das pessoas não percebem. Num sábado em visita a Ilhabela, li uma reportagem num jornal que “descambou” para o “besterol” de que “Os visinhos do continente são engasgados com a emancipação da Ilha”. Na visão superficial de quem não é desta região, pode até passar a idéia de que a Ilha e São Sebastião disputam alguma coisa em relação a identidade ou algum bairrismo, mas felizmente, nós que nascemos aqui sabemos que existe toda uma tradição entre as antigas famílias e um grande respeito entre os amigos, que este braço de mar não separa. Falo da alegria de reencontrar amigos (de verdade) que estudaram em São Sebastião, quando não havia colégio na Ilha. Falo das famílias que se socorriam em parentes e amigos em São Sebastião, quando não havia o Hospital Mário Covas. Falo do companheirismo na pesca e de como é bom encontrar o morador de Ilhabela “vendendo seu peixe” em São Sebastião e vice-versa. Sinto-me em Ilhabela como se estivesse em casa, além de que a figura política mais autêntica de São Sebastião (O Zangado) é natural de Ilhabela. Deve ser muito difícil para algumas pessoas entenderem esta região, mas mesmo assim fica fácil para elas escreverem “idéias distorcidas” em jornais. Existe um laço muito maior entre estas duas cidades, um companheirismo por lutas comuns que nunca discute “o que é de quem”. Isso é conversa de pirata, de gente que não entende o dia-a-dia dos que não estão aqui só de passagem. Agradeço a Deus este privilégio eterno de ter Ilhabela ao alcance de São Sebastião.
Nota do Editor: Maria Angélica de Moura Miranda é jornalista, foi Diretora do Jornal "O CANAL" de 1986 à 1996, quando também fazia reportagens para jornais do Vale do Paraíba. Escritora e pesquisadora de literatura do Litoral Norte, realiza desde 1993 o "Encontro Regional de Autores".
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