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SEÇÃO
Crônicas
23/01/2007 - 10h11
Nostalgia praiana
Moacyr Scliar - Agência Carta Maior
 

No primeiro dia de 2007, fui a Capão da Canoa, coisa que não fazia há muito tempo. Fiquei impressionado. A pacata praia onde, a cada verão, a nossa família passava alguns dias, mudou por completo. Capão agora é uma cidade, com prédios gigantescos e com todas as características de cidade movimentada: gente em pencas, lojas, restaurantes, congestionamento de trânsito, falta de lugar para estacionamento.

A frase seguinte deveria ser "no meu tempo era melhor". Mas não é o que vou dizer, em primeiro lugar porque não é verdade. Hoje, em Capão, existem problemas, mas também existe lugar para um número muito maior de pessoas - pessoas que, no passado, estavam privadas da praia. Que elas possam ter o seu espaço no Litoral é, portanto, um avanço.

Também não vou dizer que "no meu tempo era pior". Poderia fazê-lo: os hotéis, de madeira, eram precários, os quartos, por incrível que pareça, eram separados por tabiques que não chegavam até o teto (todo mundo sabia da vida sexual de todo mundo). Os banheiros eram comuns, as luzes eram desligadas às dez da noite. Mas a verdade é que havia um atrativo neste modo de viver simples, rústico, o atrativo da variação, da aventura. Mas então, vocês perguntarão, era melhor ou era pior?

Era diferente. E essa diferença começava no dia em que a gente tomava o ônibus para ir à praia. Coisa que só se fazia uma vez por ano; a idéia de fins de semana no Litoral era simplesmente inexeqüível. Não havia Freeway. Na verdade, não havia estrada; boa parte do trajeto era à beira-mar, sobre a areia. Se o ônibus atolava, a gente descia e empurrava. A viagem durava cinco horas, e a certa altura sondávamos ansiosos o horizonte; queríamos avistar o farol, que se erguia sobranceiro e que assinalava a entrada de Capão da Canoa. A mim, parecia uma construção gigantesca; só mais tarde constatei que, na verdade, era um farol pequeno, humilde.

Capão da Canoa não tinha ruas asfaltadas, nem calçadas. Era tudo areia; ali carro algum podia trafegar. Mas, para as crianças, havia um peculiar tipo de transporte, carrocinhas puxadas por bodes (também se podia andar a cavalo, mas era muito mais caro).

A vida girava em torno à praia, mais precisamente em torno do banho de mar, considerado "medicinal". Para as mães judias, representava uma maneira de estimular o apetite de seus inapetentes filhos (e funcionava). Ia-se à praia de manhã e de tarde. As refeições, no hotel, eram abundantes. À noite, no mesmo hotel, jogava-se cartas e falava-se da vida alheia. Às vezes, mas isso era exagero, ocorria um baile. Que, naturalmente, terminava às dez da noite.

Fiquei algum tempo olhando o mar em Capão da Canoa. O mesmo mar, as mesmas ondas que há séculos, há milênios, quebram na praia. Mas o que eu queria ver não eram as ondas. O que eu queria ver era um guri magro, mostrando os dentes num sorriso. Um guri que me abanaria, contente.

Não encontrei esse guri. Não encontrei a Capão da Canoa de outrora. Não importa. O mar continua lá.

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