Pouco a pouco, as coisas vão se encaixando e tudo vai voltando à normalidade. De vez em quando, um conhecido ainda chega e pergunta como a gente foi de festas. Festas? Que festas? O ano novo, o natal... Ah, nós fomos bem, e vocês? Bem também, passamos com a família, nada demais. Um ou outro amigo ainda está chegando das férias. Alguns cartazes e outdoors, meio descascados pela chuva, ainda nos desejam um feliz natal e um próspero ano novo. Mesmo no último Faustão, ainda deu pra ouvir algumas piadinhas sobre a ressaca do réveillon durante as videocassetadas. Mas, na semana que vem, no máximo em quinze dias, provavelmente ninguém mais vai se lembrar de 2006. Os campeonatos de futebol já começaram. O Corinthians parece que está saindo de sua recente crise. A seleção brasileira começa a se preparar para as eliminatórias. A mulata da Globo já começou a se sacudir nos intervalos, ao som dos sambas-enredos de 2007. Eu nem me lembro mais das minhas promessas para o ano novo e... - Ei, espera aí! - O quê? - Eu ainda me lembro muito bem! - Se lembra do quê? - Das suas promessas para o ano novo, eu me lembro de tudo! - Das MINHAS promessas? Mas eu... eu estava falando assim, de uma maneira genérica, não era exatamente das MINHAS promessas, era uma espécie de figura de linguagem, entende? - Não vem com esse papinho não... Dessa vez, no dia 31, quando você fez as promessas, eu gravei! - Gravou? - Gravei. - Mas... mas você nem tem gravador... - Tenho sim, ó. O meu celular tem gravador. - O seu celular? - É, é só apertar esse botãzinho aqui que ele grava tudo. - Grava até quem está falando por perto? - Grava. - Pombas, e eu que não sabia disso... - Pois é... E eu tenho aqui, tudo o que você prometeu. Tenho até um filminho. - O seu telefone também filma? - Filma. - Mas o que é a tecnologia, hem? - Pois é. E agora você não pode mais dizer que esqueceu suas promessas. - Mas você gravou tudo o que eu prometi? - Gravei. Tá tudo aqui, tim-tim por tim-tim. Quer ouvir? - Bem, eu... Não. Acho melhor não. - E por que não? - Porque eu não quero e pronto. Aliás, quem gosta de promessa é santo. E eu fui embora. Que cara mais chato, sô.
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