Eu sempre achei que a soneca era uma coisa estranha. Quando a gente pode tirar uma, não consegue. E quando não pode, dá vontade de tirar. É impressionante como eu consigo passar a semana inteira reclamando dessa afobação que a gente se mete todo dia, de enfrentar filas nos bancos ainda com o gostinho do almoço na boca, e do banco sair correndo pra chegar no emprego, e sempre reclamando que não dá tempo nem de tirar uma sonequinha. E quando chega o fim de semana, quando eu não tenho absolutamente nada para fazer, eu acabo não tirando sonequinha nenhuma e perco o meu tempo assistindo uma porcaria atrás da outra na televisão. É inacreditável. Eu ali, deitado na sala. Aquela chuvinha gostosa caindo na vidraça. Um ventinho frio se insinuando pelas frestas da porta. E eu de olhos vidrados na televisão, mudando alucinadamente de canal de cinco a cada cinco segundos, sem assistir a nada e, pior: sem conseguir dar nem uma pestanejada. Eu achava que esse tipo de coisa só acontecia comigo, até que fiquei sabendo da descoberta de uns cientistas. Eles também já vinham desconfiando que devia haver qualquer coisa estranha em nosso cérebro que nos impedia de tirar uma soneca bem tirada nas tardes de domingo. E, depois de muitas pesquisas, acabaram descobrindo um trauma camuflado nas profundezas de nosso inconsciente, ao qual deram o nome de Síndrome de JENHDMAUE (ou Já Está Na Hora Desse Moleque Arrumar Um Emprego). Tal síndrome, geralmente adquirida na infância, foi causada por nossos pais quando, chegando do trabalho para o almoço, não se conformavam de nos encontrar ainda dormindo e vinham nos acordar aos berros de "isso é hora de um homem estar dormindo?". E nem adiantava argumentar que nós estávamos de férias da escola, porque "você tá achando que vai ficar na escola pra sempre?". A Síndrome de JENHDMAUE, embora pareça meio boba, é um problema bastante sério, dadas as suas características hereditárias. Pode reparar que a gente não consegue ver nosso filho dormindo em paz num tarde de terça-feira, que a gente já vai lá dar uma cutucada nele. E mesmo quando eles estão acordados, brincando no computador, a gente passa do lado deles reclamando que "esse moleque precisa arrumar mais o que fazer". Esse outro problema, inclusive, também foi estudado pelos cientistas, e acabou recebendo uma nomenclatura própria. Trata-se da Síndrome de MSEMABEETQT (ou "Maior Sacanagem Esse Moleque Aí Brincando E Eu Tendo Que Trabalhar").
|