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Opinião
01/02/2007 - 14h16
Pilantra francês é candidato a presidente
Mario Guerreiro - Parlata
 

Nesta Ilha dos Lestrigônios homéricos, amaldiçoados pela musa Mnemósyne, os não-desmemoriados certamente hão de estar lembrados de um certo capitão Rodrigo, perdão: de um certo pilantra francês chamado José Bové que, tendo vindo a Porto Alegre há alguns anos, para participar daquele Woodstock das esquerdas, o Fórum Social Mundial, aproveitou o ensejo para liderar a destruição de uma plantação de transgênicos. É verdade que ele fez aquilo que Requião não fez, mas gostaria de ter feito, grande inimigo dos transgênicos que é! Mas o que é pior: foi apenas convidado a se retirar do Brasil como persona non grata, não tendo sido detido pelas "autoridades" brasileiras e devidamente processado, ao menos por três infrações da lei: destruição de patrimônio alheio, perturbação da ordem pública e apologia do crime.

Quero acreditar que, caso fosse pedido ao governo francês permissão para deter o pilantra deletério e processá-lo no local em que seus crimes foram cometidos, ele a teria alegremente concedido. Não era a primeira nem seria a última vez que esse tal de Bové comandaria um empastelamento de patrimônio alheio. Sabe-se que, pouco antes de sua vinda a Porto Alegre, ele estava sendo processado na França pela depredação de duas lanchonetes do McDonald’s, para os franceses o inimigo número 1 de sua refinada culinária.

Num filme que já se faz antigo, Cathérine Deneuve, La belle du jour, tinha um namorado americano. Em dado momento da película, ele a convidou para comer num "restaurante" yankee típico e ela - não sem estremeliques e faniquitos - vociferou: "Paris é uma fortaleza contra os hamburgueres!" Ela só não sabia que a referida fortaleza um dia seria invadida por um cavalo de Tróia... Nem Moscou nem Xangai pós-comunistas conseguiram evitar a invasão desse poderoso Império do Hamburguer!

Ora bolas, tanto os frogs como os bruzundangas ainda não se deram conta de que o McDonald’s, o King’s Burger e similares não vendem comida para gourmets franceses, mas sim tempo para americanos com pressa, que estão sempre precisando do mesmo e não podem se dar ao luxo de desperdiçá-lo num restaurante, como fazem os franceses com seus três diferentes pratos, sobremesa, cafezinho e licor. É compreensível que, dados seus hábitos culinários e regime de funcionários públicos - na França em cada 5 cidadãos na ativa 1 é funcionário - não apreciem o McDonald’s por não apreciarem a tal da fast food. Mas daí a destruir suas lanchonetes é uma reação um pouquinho exagerada, somente explicável por atávicos e irracionais xenofobismo, esquerdismo e antiamericanismo. Não por mero acaso algumas das horrorosas mazelas das quais padece um doente em estado terminal chamado Brasil.

Querem um exemplo? Querem mesmo? Dá-lo-ei, pois. Quem pode dispor de dúzias deles não tem dificuldade em fornecer apenas um. E bastante eloqüente por sinal! Quando os americanos, após a expulsão dos nazistas, estavam ocupando a França no período pós-Segunda Guerra, o xenófobo, narigudo, ingrato e antianglo-americano general De Gaulle enviou uma carta para Washington DC em que dizia algo mais ou menos assim: "Não quero ver mais nenhum soldado americano no solo pátrio francês!" E veio prontamente a resposta de Washington: "Isto inclui os 10.000 soldados americanos que estão enterrados aí na França?" Que belo exemplo de poetic justice (tapa com luva de pelica)!

Mas voltando à vaca fria... Após a pilantragem do arruaceiro Bové e sua súcia brasileira em Porto Alegre, após alguns gaúchos mais exaltados terem vontade de lhe dar uma boa tunda pra ele ver o que é bom pra tosse, fui informado que o truculento bigodudo tem uma fábrica de queijo Roquefort e é lobista dos agricultores franceses, poderosíssimo grupo de pressão. Ah! Isto explica quase tudo...

Mas por que razão os franceses - sejam agricultores, políticos e/ou intelectuais - encetaram uma fervorosa cruzada contra os transgênicos - transgêneros é outra coisa e eles não têm nada contra, por sinal - espalhando boatos de que tais sementes geneticamente modificadas fazem mal para a saúde humana, quando não foi devidamente constatado um único caso médico até o presente momento! Ah! Talvez seja pelo fato de os transgênicos serem propriedade industrial da Monsanto e esta, por sua vez, ser uma empresa americana. "É americano, sou contra!", dizem os Policarpos Quaresmas da terra de Asterix e Obelix.

Mas o referido caso do marginal francês - outro nome não sei dar a quem comanda maltas em depredações - já tinha sido remetido para minha memória rígida e eu não tinha mais ouvido falar nesse cabra da peste, quando, para minha grande surpresa, abro o jornal numa bela manhã de verão e eis que me deparo com a seguinte manchete: SINDICALISTA SERÁ CANDIDATO A PRESIDENTE NA FRANÇA: Bové quer ser o líder da esquerda radical antiliberal. Logo abaixo, estampada a inconfundível figura de um bigodão, seu cachimbo e olhar de cínico (Jornal do Commercio, 22/1/2007).

E eu que pensava que o Brasil permaneceria por bom tempo sendo a única república sindicalista do mundo sob o comando de um partido-sindicato: o PT-CUT... No mínimo 33.000 de seus membros, segundo o próprio sindicato, estão empregados no governo Lulla. A maioria deles composta de aspones e AAAs, quer dizer: Assessores para Assuntos Aleatórios. Agora vejo que a douce France não só vem sendo atormentada por aqueles que os franceses costumam chamar de pieds-noirs e salarabes, como também está correndo risco de se transformar num grande sindicato esquerdista! Mon Dieu de La France!

A matéria fornecida pela France Presse entra diretamente no assunto: "Anunciarei minha candidatura em 1º de fevereiro" declarou o conhecido militante antiglobalização [obs. minha: Para mim, ser contra a globalização é como ser contra o Pólo Norte enquanto pólo magnético!], de 53 anos, diante dos jornalistas e das 700 pessoas que acompanhavam um comício dos antiliberais [obs. minha: metade dos quais funcionários de empresas estatais e a outra metade, bobalhões úteis e ressentidos] em Montreuil num subúrbio do leste de Paris [obs. minha: Um daqueles subúrbios em que a maioria da população é composta de jovens imigrantes desempregados-e-inempregáveis, que costumam incendiar automóveis de vez em quando].

Após o referendo sobre a Constituição da Europa - por boas razões coisa natimorta - em maio de 2005, uma facção radical da esquerda francesa interpretou a rejeição dessa legislação supranacional como uma rejeição da globalização. Ora, quem quiser pode rejeitar a lei da gravidade, mas não deixará de estar submetido a ela como está todo corpo físico neste mundo material. A globalização nada mais é do que uma decorrência da ordem espontânea, para aplicar o importante conceito de Friedrich Hayek. Fizesse a referida facção uma interpretação correta e entenderia o "Não" como uma rejeição, mas como rejeição da centralização administrativa, da ingerência de um grupelho de "iluminados" nas nações da Comunidade Européia e do desrespeito pelos diferentes costumes dos povos componentes da mesma. Na Europa , direito consuetudinário só não se transformou em um palavrão na Inglaterra de Elizabeth II - God Save The Queen! - e de Tory Blair.

Como é requerido na França, o já mencionado candidato a candidato precisa apresentar à justiça eleitoral um abaixo-assinado com 500 assinaturas de "padrinhos". Diante de tal exigência, o referido pilantra parece que não está indo nada mal, pois já conta com 25.000 assinaturas. "Segundo Bové, o projeto dos militantes antiglobalização não é compatível com o projeto socialista"[obs.minha: Não é mesmo: nem com o socialismo totalitário nem com o democrático nem mesmo com qualquer outro].

Só que a globalização, embora conseqüência não-pretendida de inumeráveis ações humanas, não é fruto de nenhuma intenção humana: não pode ser (cannot be) rejeitada de fato. Mas o socialismo, construção intencional humana, pode ser "desconstruído" (só para usar linguagem do sofista Jacques Derrida). Segundo ainda Bové, em sua exótica classificação de doutrinas político-econômicas, "o adversário é o projeto liberal, seja social-liberal (obs. minha: entenda-se "social democrata") ou das direitas". (Jornal do Commercio 22/1/2007)

Bem, excluída a extrema-direita, pois Hitler, Mussolini e assemelhados jamais poderiam ser considerados liberais nem tampouco democráticos, Bové só pode estar fazendo referência à direita moderada ou centro-direita - onde se situa com orgulho este autor burguês que jamais votará 16 - e que defende aquilo que Michael Novak denominou "capitalismo democrático"; de modo a distingui-lo do regime da Coréia do Sul, por exemplo, que é capitalista mas não é democrático; das Ilhas Fuji, que é democrático, mas não é capitalista [carece da acumulação de capital indispensável para sê-lo]; e da Coréia do Norte, que não é capitalista nem muito menos democrático. Mas nada impede que um belo dia resolva ser ambas as coisas... Caso isto venha a ocorrer, só restará o ocidental Museu do Comunismo: Cubanacan, misterioso país del amor.


Nota do Editor: Mario Guerreiro (yperion@bol.com.br) é Doutor em Filosofia pela UFRJ. Professor Adjunto IV do Depto. de Filosofia da UFRJ. Ex-Pesquisador do CNPq. Ex-Membro do ILTC [Instituto de Lógica, Filosofia e Teoria da Ciência], da SBEC. Membro Fundador da Sociedade Brasileira de Análise Filosófica. Membro Fundador da Sociedade de Economia Personalista. Membro do Instituto Liberal do Rio de Janeiro e da Sociedade de Estudos Filosóficos e Interdisciplinares da UniverCidade. Autor de obras como Problemas de Filosofia da Linguagem (EDUFF, Niterói, 1985); O Dizível e O Indizível (Papirus, Campinas, 1989); Ética Mínima Para Homens Práticos (Instituto Liberal, Rio de Janeiro, 1995). O Problema da Ficção na Filosofia Analítica (Editora UEL, Londrina, 1999). Ceticismo ou Senso Comum? (EDIPUCRS, Porto Alegre, 1999). Deus Existe? Uma Investigação Filosófica. (Editora UEL, Londrina, 2000). Liberdade ou Igualdade (Porto Alegre, EDIOUCRS, 2002).

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