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Opinião
07/02/2007 - 09h10
Um ilustre desconhecido...
Ubiratan Iorio - Parlata
 

Já escrevi aqui que ninguém pode ser "contra" o crescimento sustentado, a não ser que seja louco ou queira aparecer. Por isso, todas as vezes que ouço, vejo ou leio alguém dizer-se um "desenvolvimentista", troco de estação, canal ou página, porque paciência tem limite.

Crescer - ou, como se dizia em tempos priscos - "gerar riqueza" já significou, para uma nação ou povo, sucessivamente, ao longo da história, acumular cabeças de gado, amealhar metais preciosos, possuir terras agricultáveis e, já no século XVIII, inserir-se na Revolução Industrial. Adam Smith, embora antecedido por diversos pós-escolásticos europeus, foi quem primeiro tentou identificar de forma sistemática as causas da criação de riqueza. Antes de Smith, cuja obra sobre o tema - "A Riqueza das Nações" - data de 1776, simplesmente não se falava em "desenvolvimento econômico", porta da esperança que ele descortinou, enfatizando que as chaves para abri-la eram a livre iniciativa e a ética do trabalho e da poupança. No mundo de hoje, com tantas transformações tecnológicas, os segredos do crescimento sustentado - isto é, ano após ano e não por espasmos - resumem-se à trilogia educação, liberdade econômica (economia de mercado) e liberdade política (democracia representativa), fundamentada em valores éticos e morais milenares e insubstituíveis, consubstanciados em leis sucintas e estáveis.

Tem gente que pensa - se é que podemos chamar a esse trabalho cerebral de "pensamento" - que, para a economia crescer, basta os bancos centrais fixarem a taxa básica de juros em um nível baixo; outros, inspirados na "Teoria Geral" de Keynes (em que ele mesmo já não acreditava pouco antes de falecer, em 1946), que é suficiente o Estado aumentar os seus gastos e injetar "demanda efetiva" na economia, para que um curandeiro chamado "efeito multiplicador" opere o milagre de transformar pedras em pães e empregos; e outros, mais raivosos e rupestres, que um país torna-se rico se fizer uma reforma agrária e distribuir terra para todos.

Não se dão conta de que são três falácias. Ora, os juros são elevados não porque os presidentes dos bancos centrais sejam pessoas de má índole, mas porque são obrigados a buscar empréstimos junto ao setor privado para financiar a orgia orçamentária dos governos que, por sua vez, deriva da idéia de que os gastos públicos sempre geram crescimento, quando o que provocam, na verdade, é inflação, maior tributação e endividamento interno e externo do setor público, ou - como costuma ser mais comum - uma combinação desses quatro elementos ou de alguns deles. Injetar "demanda efetiva" na economia não gera crescimento sustentado: quando muito, pode provocar um surto efêmero de aquecimento das vendas, acompanhado de uma tentativa por parte do setor produtivo de aumentar a produção, que poderá durar algum tempo caso as expectativas de inflação estejam sob controle, mas que, mais cedo ou mais tarde, será abortada pela inflação e pelo desemprego, pela mais elementar das razões, que é o fato de a demanda estar para a oferta assim como o Alonso está para o Rubinho... Sempre chega a hora em que o excesso de demanda não é mais atendido pela expansão da capacidade produtiva, que exige tempo de maturação nos investimentos, assim como sempre, seja na largada, na terceira ou na vigésima volta, o simpático piloto brasileiro é ultrapassado pelo espanhol mais veloz...

Enquanto não aprimorarmos a educação, praticarmos a liberdade econômica e atacarmos de frente a questão da reforma política, urgente para melhorar a representatividade da democracia brasileira; enquanto não adotarmos o federalismo; enquanto o sistema ético continuar podre e enquanto nossos governos acreditarem no conto-do-vigário de que é bom inchar a demanda, o crescimento sustentado continuará sendo o ilustre desconhecido que tem sido para a nossa economia e sociedade.


Nota do Editor: Ubiratan Iorio é Doutor em Economia pela EPGE/FGV. É Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UERJ e Vice-Presidente do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP), Professor Adjunto do Departamento de Análise Econômica da FCE/UERJ, do Mestrado do IBMEC, Fundação Getulio Vargas e da PUC/RJ. É escritor com dezenas de artigos publicados em jornais e revistas.

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