Quando um cara é meio devagar, ou meio preguiçoso, a gente costumava chamar ele de pamonha. Pois esse é um termo equivocado. Fiquei sabendo disso nesse último final de semana. Pamonha não tem absolutamente nada de devagar. Muito menos de preguiçoso. Já foi bastante comum nos sítios e fazendas por aí a Festa da Pamonha. Era quando os vizinhos, vizinhas, parentes e amigos se reuniam para fazer hã... pamonhas. Era uma tradição. Umas semanas antes da época do ano em que o milho se transformava em milho-verde, já começavam a planejar a tal festa. Como tudo nesse mundo, a tal tradição foi desaparecendo. Só os velhos ainda se lembram dela. Mas, no último final de semana, minha família resolveu reviver os velhos tempos. Meu sogro entrou com uma rocinha de milho que ele tem atrás do rancho. Meu cunhado entrou com um monte de parente e as pamonheiras (é, existe o cargo de pamonheira). Pelo menos, eu acho que era isso que se chamavam duas senhoras que apareceram e que, aparentemente, coordenavam aquela bagunça. Primeiro as pamonheiras mandaram os homens colherem o milho. Catar milho nos pés era o principal trabalho masculino. Depois de voltarem lá da roça todos suados, sujos e cortados, era hora de debulhar o milho. Esse é um trabalho que podia ser considerado unisex, mas os homens foram saindo de fininho para tomar uma cerveja e a coisa sobrou mesmo para as mulheres, que xingaram seus maridos de preguiçosos e coisas do gênero. Mas, pelo jeito, isso também fazia parte da tradição, já que elas começaram a trabalhar dando risadas e falando mal da vida alheia. Logo depois, os maridos começaram a trabalhar de novo. Era hora de pegar madeira e colocar o tacho com água para ferver. Só o tacho, para carregar, precisava de dois maridos. As pamonheiras começaram, então, a ralar o milho, e a fazer uma espécie de papa amarela. A essa altura, já estava todo mundo meio de fogo, as crianças chorando de fome, umas mães já começaram a fazer uma macarronada e os homens um começo de churrasco e, mais ou menos nesse ritmo, a coisa se estendeu até o entardecer. Embrulhando pamonhas, amarrando pamonhas, cozinhando pamonhas, carregando coisas pra cá e trazendo outras de lá. No fim, cada um saiu com um saquinho de pamonha, tchau, tchau, até a próxima, não vai levar a pamonha salgada? Ah é, tava esquecendo, e você o que achou da pamonha com goiabada?, prefiro a só com queijo mesmo, e foi indo todo mundo embora, suado, cansado e dando risada do cachorrinho que ficava correndo atrás da galinha e do tio que derrubou o saco de milho dentro do rio. Nossos netos, provavelmente, nunca verão uma festa da pamonha. Mas tudo bem. Nós também nunca veremos as festas deles.
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