Inclusão social através do esporte
Quando nos aproximamos dos jogos olímpicos estamos revendo um filme que assistimos de quatro em quatro anos. A mídia divulga a trajetória de nossos heróis desconhecidos, e toda a dificuldade que estes encontraram para almejar, quem sabe, uma medalha olímpica. A infância pobre, a falta de condições de treinamento, o desamparo nos momentos difíceis, e o choro dos amigos e parentes - mas tudo acaba bem, e o fervor cívico nos leva a acreditar que este personagem é protagonista. Certo? Errado! O esporte no Brasil produz uma imensa maioria de coadjuvantes, e uns poucos protagonistas no cenário internacional. Neste filme trocam-se os artistas, mas o enredo é o mesmo. O percurso de nossos atletas olímpicos rumo ao pódium continuará cambaleante e persistente, como a imagem daquela atleta torta que entrou no estádio, quase sem forças para caminhar. As dificuldades encontradas pelos esportistas estão inseridas num contexto de provações que todo brasileiro vivencia em sua rotina silenciosa, e somente ele, cidadão, consegue ver. O descaso esportivo é irmão de outros tantos. Mas a cada quatro anos desejamos que medalhas caiam do céu. Existem, em nosso país, milhões de talentos desperdiçados; o benefício do esporte não lhes é concedido, e quando o é, logo lhes é roubado pela falta de acompanhamento e incentivo. A escassez de projetos esportivos de longo prazo, salvo alguns bem intencionados, mas com poucos recursos, dificulta a alteração do roteiro deste filme de drama e aventura em terras distantes. O esporte de alto rendimento necessita de fortes alicerces, e esta base é negligenciada pelo estado, pela iniciativa privada, e também pelos meios de comunicação, que divulgam apenas o triunfo isolado. Cabe aos meios de comunicação despertar o interesse do público para as competições, onde são forjados nossos futuros campeões, uma espécie de trailer, a expectativa de um grande sucesso que está para estrear. Só assim a iniciativa privada investirá recursos, quando a audiência estiver garantida. Ao estado compete a responsabilidade de garantir o acesso à educação, que é irmã gêmea da prática esportiva, as chances de inclusão social pelo esporte são imensas e prazerosas. Porém, a massificação e divulgação não são suficientes. As autoridades esportivas, que muitas vezes transformam suas federações e confederações em feudos ou dinastias, deveriam, pragmaticamente, copiar modelos de estrutura profissional, e não apenas importarem shows de pirotecnia. Tudo isto já está sendo feito? Veremos se o final do filme foi alterado, caso contrário, estaremos retrocedendo e revivendo o passado! Nota do Editor: Lutero Barbará é Professor de Educação física e especialista em administração esportiva.
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