- Papai quero sorvete! Papai quero sorvete! Teria gritado o filho mais novo de Oscar, com seus olhinhos azuis brilhando, ao passar na frente da sorveteria. Isto, se Oscar tivesse filhos. - Bom dia amigo! Prazer em vê-lo! Que saudade!! Teria saudado o melhor amigo de Oscar, ao reencontrá-lo. Claro, se Oscar tivesse amigos. - Querido, acabou o café. Teria dito a esposa de Oscar, acordando-o pela manhã. Se Oscar tivesse esposa. Se ao menos dormisse. - Vizinho, me empresa o martelo? Teria pedido, sorridente, o vizinho da casa amarela, no lado esquerdo à de Oscar. Caso Oscar tivesse martelo, ou vizinho... Ao menos casa. - Atrasado de novo, Oscar? Qual a desculpa de hoje? O carro quebrou? Teria ironizado o patrão de Oscar. Certamente, se Oscar tivesse emprego, patrão, carro. - Seu molar tem uma cárie. Você precisa comer menos doce. Teria alertado o dentista de Oscar, fuçando-lhe boca adentro à cata de dinheiro. Se Oscar tivesse dentes. Se ao menos comesse... - Seus documentos, por favor! Teria insistido o policial, ao encontrar Oscar vagueando pelas ruas, tarde da noite. Óbvio, se Oscar tivesse documentos. Se vagueasse... Se ao menos fosse visível. -Pula! Pula! Pula! Teria cantado, em coro, a sádica multidão, se pudesse ver Oscar de pé, no parapeito do último andar do prédio mais alto da cidade... Oscar ali, olhando para baixo, indeciso... Indeciso? Isto Oscar nunca foi! - Pelo amor de Deus, meu filho, não pula. Não acabe com sua existência assim... Teria apelado o padre, esticando a mão para Oscar que escorregava do parapeito. Claro, se Deus o amasse... Se Oscar ao menos existisse... Nota do Editor: Edmundo Luiz Pacheco é jornalista, 45 anos, editor-chefe da TV Guairaca (afiliada Globo) Guarapuava, PR.
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