Acordou e precisava ir ao banco. Tomou um banho gelado, colocou a roupa e saiu de casa. Calça jeans, um cinto de rebites e uma camiseta verde. Casual, esporte. O dinheiro estava no bolso, junto com o boleto que ele teria que pagar. Subiu no ônibus, pagou a passagem e chegou no metrô. Desceu na República, andou até a Barão de Itapetininga. No caminho, ele observava: as mulheres passam pelos homens, que olham com desejo para as mulheres e que são vistos com desejo por outros homens. Ciclos, como ele não poderia deixar de pensar em ciclos, tudo girava e se reciclava, assim como a porta giratória daquele banco. Era sempre a mesma coisa. Sempre. Toda vez que ele ia passar pela porta giratória, a porta apitava e ele era sempre barrado. Para evitar inconvenientes, ele ia ao banco sem nada, nenhum objeto, bolsa, mochila, enfim nada. E nada que fosse metálico, uma vez que é importante lembrar isso. Ele era barrado de graça, de propósito. Preconceito. E toda vez o segurança pedia solicito que ele desse um passo para trás da porta amarela e tentasse de novo. E assim ele ia, e a porta novamente apitava. Ele levantava a blusa, para deixar claro para o segurança que não, ele não estava armado, ele era inocente e não representava nenhuma ameaça ao superinteligente esquema de segurança projetado pelo banco. E só assim, na terceira vez, o segurança do banco apertava o botão que liberava sua entrada. Mas daquela vez seria diferente. Ele se vingaria e estava decido a isso. Já estava tudo premeditado, desde a hora que ele saiu de casa. Quando foi tentar passar pela porta giratória, o apito o fez voltar para trás. Sua única reação foi sorrir. Um sorriso irônico e sarcástico tomou conta de seu rosto. Dessa vez, ao levantar a camiseta para mostrar que não estava armado, ele tirou também seu cinto. Tudo premeditado. Tudo friamente calculado, uma vez que ele sabia que o material dos rebites de seu cinto não faria nenhuma porta giratória apitar. Como seu cinto estava na caixa onde geralmente objetos como guarda-chuvas são depositados, ao passar pela porta sua calça caiu por suas pernas, deixando tudo abaixo da cintura à mostra. Foi levado à delegacia, respondeu processo por atentado ao pudor e pagou a conta com multa por atraso. Nota do Editor: William Magalhães é jornalista.
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