Já que não teve o menor pique para resoluções de ano novo, tipo ser uma boa menina, olhar menos para o próprio umbigo e mais para o próximo (o próximo é o outro ser humano, bem entendido, não é ficar de olho no umbigo dos gatos sarados da praça) ou qualquer outra nobreza no estilo, Anabel decidiu que 2007 vai ser dedicado ao corpo. Já que, entre mortos e feridos não dá pra salvar tudo, que seja feita uma concessão especial ao quesito gostosura.

E como o ano só começa mesmo depois do carnaval, que humilha qualquer mortal com o desfile das deusas desnudas pelos sambódromos, avenidas e salões, no ano que vem quero estar entre elas. Sei que a batalha é dura e o resultado pode ser duvidoso, mas pelo menos quero tentar. Tenho boas razões para isso.

O corpo rende mais que a alma. Quando adentra uma mulher no recinto, quem é que vai ficar especulando se a moça é bom caráter, inteligente ou tem bons sentimentos? E cuidar do corpo é mais fácil que da cabeça, que o digam as revistas brasileiras durante todo o massacre do verão, quando somos obrigados a suportar todas as gostosas do planeta contando seus segredos para manter a cinturinha de pilão, a pele bronzeada, o cabelo impecável ou qualquer outra maravilha a seu alcance - alcance delas, bem entendido. A sensação do leitor indefeso é que a culpa é própria, que só não é como elas querem porque não querem.

Convencida de que pode chegar lá, Anabel se preparou para ir à luta. A escriba, que nunca deixa nada barato, foi pesquisar na fonte. E os trabalhos de medicina esportiva são arrasadores. Cheguei à conclusão que não só a ciência como também a natureza estão contra mim. Senão vejamos:

Depois da terceira ou quarta década de vida, diminuímos o gasto de calorias, o metabolismo desacelera. Ainda que coma 10% a menos que o habitual, o adulto diminui também 30% do gasto calórico. Sobram 500 gramas por ano, o que quer dizer que, em dez anos, são 5 quilos a mais a enfeitar o esqueleto, isso se a quantidade de comida cair 10%.

Desanimador? Escassos e queridos leitores, vocês ainda não viram nada. Anabel fez imediatamente o voto de fechar a linda boquinha, pra descobrir em seguida de que pouco ou nada vai adiantar o imenso sacrifício. Dietas rigorosas reduzem ainda mais o metabolismo, quanto menos se come, menos se emagrece.

Já no maior assanhamento, preparando-me para encher o prato seis vezes por dia, como seria o recomendado, prossegui no estudo para constatar que, ao comer gastamos energia para digerir o alimento, comer várias vezes ao dia ajuda a gastar calorias. Mas (sempre esse malvado, mas, que não deixa nada ser perfeito), não são seis refeições, é um iogurte, um biscoitinho com ricota, uma barrinha de cereais, essas coisas. O ideal é conjugar o controle alimentar com exercícios. Ou então tomar alguma outra resolução para quando o carnaval passar.

Anabel Serranegra está pensando seriamente em voltar a estudar

Nota do Editor: Maria Ruth de Moraes e Barros, formada em Jornalismo pela UFMG, começou carreira em Paris, em 1983, como correspondente do Estado de Minas, enquanto estudava Literatura Francesa. De volta ao Brasil trabalhou em São Paulo na Folha, no Estado, TV Globo, TV Bandeirantes e Jornal da Tarde. Foi assessora de imprensa do Teatro Municipal e autora da coluna Diário da Perua, publicada pelo Estado de Minas e pela revista Flash, com o pseudônimo de Anabel Serranegra.